Como ser o que se é, como?

“O homem que não quiser fazer parte da massa deve deixar de ser conformado consigo mesmo, que siga então a própria consciência que grita ‘seja você mesmo! Você não é certamente aquilo que faz, pensa e deseja neste mundo’.”*

Só artista se coloca para além da massa. Só o artista mantém fidelidade à sua singularidade. Só o artista afirma a sua irrepetibilidade. Por isso ele é autônomo. Ele não tem de prestar conta a ninguém de suas relações com o que é belo e bom. Por isso ele não se aliena, mas mantém domínio de si, de seus movimentos, gestos, vontades e ações.

Daí o desafio: como alcançar a afirmação da singularidade, condição de possibilidade para a vivência da autonomia, em uma sociedade que só valoriza o indivíduo se ele estiver figurando no pessoal de uma empresa, nos quadros de um partido político ou nas fileiras penitentes dos crentes submetidos à religião?

Como ser o que se é? Como?

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*NIETZSCHE, F. Schopenhauer como educador – considerações extenporâneas III, 1874. Trad. A. M. S. Vaz. Campinas: FE/UNICAMP, 1999, p. 2, mimeo.