Luz na sombra

A luz da lua não permitia que ninguém em campo aberto se escondesse. As luzes espalhadas pela orla eram tão potentes que revelavam todos os traços e feições de quem ali passava.

Temendo não ver bem as estrelas como eu gostaria, procurei as sombras e caminhei até onde a luz artificial não iluminava.

Guiada apenas pelo luar, encontrei um banco e sentei de frente para o mar e só vi escuridão. O som das ondas atingindo as pedras era a única playlist disponível, mas eu não conseguia escutar. Meus pensamentos misturavam-se e causavam um ruído difícil de entender.

Olhando, ora para a lua, ora para o seu reflexo no mar, em um descuido vi a minha própria sombra na areia. A lua, o mar, o banco e três vezes eu. Meu eu em corpo, meu eu em sombra e meu eu em pensamento. O céu, tão claro com a lua, e o mar, que só era visto porque refletia a luz da lua. E eu, que me enxerguei na sombra da lua.

Deixei de enxergar o céu, mas voltei a escutar o som do mar. O peso de tantos eus me fazia sentir cada vez mais bamba naquele banquinho. A luz natural revela as imperfeições, mas permite a ascensão. Me levantei dali e segui de volta para a luz artificial. Meus eus se juntaram em um só. O som do mar cada vez menos intenso. As imperfeições ainda ali, mas agora escondidas em minhas profundezas. Meus traços e feições voltam a ser revelados e volto a ser mais uma a andar pela orla.

Marna Bride
Enviado por Marna Bride em 05/10/2020
Código do texto: T7080639
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