E se um dia tudo se resumisse a receber os dividendos pagos por engano a um pobre, que, de repente, se tornava o chefe máximo do mundo? Quando falo em dividendos, falo em todos, pelo que o dito fulano é apenas uma utopia. De qualquer das formas um pensamento que na melhor das hipóteses igualaria todos os multi-milionários aos indigentes. Passaríamos a ver moscas nas caras chorosas dos ex-ricos? Ou, derivado da sua sacanice, passariam fácilmente a um novo patamar de riqueza, por via da indisfarçável veia corruptora?

Um belo dia Sofia chegou mais cedo a casa, vinha excitada com a promoção no seu trabalho de sempre. Entrou no quarto e viu o marido a ter relações sexuais com outro homem. A princípio escandalizada, dominou esse sentimento e meio na sombra ficou a assistir ao desmoronar do mito de macho que ele sempre lhe incutira. Mais importante ainda era o facto de ele ser herdeiro de uma das maiores fortunas da zona onde viviam. Sorriu e saiu porta fora, era tempo de preparar o jogo sujo da chantagem e da mentira pérfida.

Sabe bem amealhar sempre mais de qualquer coisa, mesmo que com isso se prejudique quem nunca se vai saber muito bem quem, afinal o que importa neste mundo competitivo é ser o melhor, mesmo que para isso seja necessário destruir os recados enviados por uma qualquer divindade omnipotente que perdoará sempre as desgraças obtidas da vil vontade de apenas obter, sem querer saber a forma ou o conteúdo.

Sabe bem mas não passa de um reles crime que muitas vezes passa despercebido a quem o comete, apenas e só pela incúria que advém da sua educação.

Ele telefonou-lhe para que se encontrassem o mais rápido possível. Como já tinham mais de um ano de convivência e até pensavam em se casar, ela foi sem sequer perguntar o porquê. Quando chegou foi amordaçada e despida com violência, de seguida foi violada consecutivamente por vinte homens. No final da noite medonha viu-o a pagar a um dos violadores enquanto se riam em franca confraternização. Nesse dia nasceu-lhe o direito de vingança que iria utilizar até a morte a separar de si própria.

A ganância é um mal generalizado, mesmo no momentos de maior fraqueza, em que apenas nos deixamos levar pelo que mais nos adocica a alma.

Podia viver de forma mais pura, consentânea com os egoísmos ultra-modernos. Rio-me apenas do frio e da montanha coberta com as nuvens que teimam em não subir.