O HORRENDO BRASIL DO CIDADÃO DE BEM

O Brasil sempre foi um país esquisito. Nasceu da invasão, “evoluiu” com a escravidão, tudo com a anuência de um cristianismo meio canalha. Ao longo de sua história, o país tratou de fundamentar todos os seus crimes no temor de Deus, na crença em instituições dissimuladas e numa confiança sem sentido no afável e caloroso espírito do brasileiro.

Séculos de educação excludente, negação de todas as pautas de costumes (relegadas aos porões das casas de famílias de bem) e um preconceito injustificável, explodem agora numa grande arena de guerra. De um lado, evangélicos histéricos, brancos que sonham em voltar pra casa grande e o maldito cidadão de bem que com uma mão abusa de todas as formas de seus semelhante e com a outra condena os “desvios” dos outros. Do outro lado, o oprimido que ensaia seu grito de revolta, cansado de ser o corpo que apanha, que leva tiro, que é impedido de ter acesso à maioria dos lugares.

Essa era uma guerra em silêncio. Agora, é uma guerra gritada, berrada na internet, em suas várias plataformas. Uma guerra travada com verdades incômodas e mentiras que só podem existir num lugar onde a educação falhou (lembram-se da mamadeira de piroca?). O caos instalado é imprevisível, mas podemos já medir muitos de seus efeitos. O primeiro, a eleição de um sujeito completamente imbecilizado e virulento par a presidência. Um ser que soube como ninguém se valer da paranoia da classe média e da falta de instrução de classes menos favorecidas. E para além de todos os efeitos maléficos dessa eleição, vemos emergir das sombras da internet para o mundo real, a intolerância que mata, que humilha e que não tem vergonha de ser a pior escória da humanidade.

De certa forma, o mundo nunca foi muito diferente de tudo que aí está. A s histórias são cíclicas. Mas como somos a única espécie dotada de consciência, era pra já termos aprendido algo com os piores momentos do mundo, como a ascensão do nazismo ou com a escravização dos povos africanos. Mas repetimos tudo, século após século. E naturalizamos de um lado as excludências étnicas e de outro, um fundamentalismo cristão que se pudesse, voltaria a queimar “bruxas”, gays e todos os indesejáveis nas fogueiras.

Não tenho, francamente, muitas esperanças com a gente que aí está. Aqueles que viveram muito, e acumularam conhecimentos e experiências, são intolerantes e preconceituosos na maioria dos casos. As novas gerações, completamente hipnotizadas por assuntos irrelevantes, mal conseguem fazer contas básicas de matemática. Quanto mais ter um pensamento crítico relevante sobre política e suas implicações. Não creio em milagres e muito menos ainda em salvadores da pátria. Sabemos que a saída menos dolorosa é a educação. Mas este é um projeto que, especialmente no Brasil, está em total desmonte.

A quem vier depois de mim, desejo boa sorte. Caso seja preto, gay, pobre ou tenha ideias próprias, será engolido pelas engrenagens desse país “Cristão”, que tem um fetiche inexplicável pelo autoritarismo e que não suporta mulheres (ainda mais as que pensam e vão à luta). Às vezes, fico pensando o que aconteceria a Cristo se retornasse ao mundo agora. Será que seria morto com 80 tiros? Será que seria espancado por ser “suspeito”? Será que alguém o seguiria de fato?

São boas perguntas que ficam de lado, pois essa terra, Deus já esqueceu faz tempo...

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 25/10/2020
Código do texto: T7095929
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.