SOBRE A DOR.

às vezes a gente acorda meio diferente não sei o por quê.

nem sempre tem motivo. só nos sentimos estranhos a tudo.

falta uma parte. um pedaço.

sabe quando aquela pessoa tão importante a qual juramos amor eterno vai embora? ou quando nosso animal de estimação parte pra um lugar mais bonito?

sentimos tanto, sofremos e choramos.

mas depois de um tempo só fica a dor da saudade. então você sente um vazio no peito.

é esse vazio que estou falando.

de onde vem e para onde vai?

o seu andar e o seu falar mudam. o ritmo como você faz as coisas não é mesmo.

é uma tempestade que só chove em você.

e então ao olhar para as outras pessoas no metrô, indo e vindo de lugar nenhum.

tem um lugar? um lugar bonito? um lugar sem dor?

porque a dor não é sobre sentir.

é sobre permanecer.

a dor da alma é diferente. é como agulhas perfurando o peito, fazendo queimar. as nossas lágrimas são mais salgadas.

a diferença é como você lida com a dor.

você se entrega ou luta?

eu luto.

mas tenho medo.

tenho medo de até onde vou conseguir lutar.

e se eu não conseguir amanhã?

e se eu não conseguir sair da cama após o meio dia?

me diga, você ainda vai estar ao meu lado quando eu me tornar fraca o suficiente pra não conseguir tomar um banho ou me alimentar? quando eu não tiver mais forças pra trabalhar. ou quando eu não conseguir te dar amor?

estou tão acostumada com as pessoas indo e vindo.

estou cansada de escrever. mas ao mesmo tempo é minha única esperança.

se eu não escrever

me sufoco com as palavras.

as tarefas e o trabalho me dizem pra continuar. mas eu só queria me entregar sem lutar.

queria ficar na cama até as 15 horas, com a coberta até o pescoço em um calor de 35 graus. não me importaria.

depois eu pegaria um papel e uma caneta

e escreveria sobre a sensação de se sentir fraco e impotente.

ouvi dizer que ser fraco é uma questão de escolha. mas me diga, até onde você aprendeu a olhar com mais amor ao próximo e tentar entender o quanto ele já lutou?

quantas vezes ele chorou calado

quantas vezes gritou em silêncio

e quantas vezes pediu socorro com o olhar.

um olhar triste e úmido.

então me abrace e me diga que tudo isso está próximo do fim.

que a dor é passageira. e que não pode chover todos os dias.

Letícia S Souza
Enviado por Letícia S Souza em 26/10/2020
Reeditado em 26/10/2020
Código do texto: T7096704
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