Efemeridade do cantor que sou:
reflexões rumo aos meus 25 anos


Odisseu levou vinte anos para chegar a Ítaca enfrentando deuses e monstros, chegou. Levou 20 anos.
 
Iniciei minha jornada cantando aos cinco anos (5 anos) em uma igreja evangélica — cenário de milhares de crianças das periferias de cidades em geral; em meu caso especificamente São Paulo; como Odisseu, nesta odisseia da vida, trago, como todos nós seres humanos em suas histórias, as minhas cicatrizes e carrego dentro do meu peito o meu Jesus cristo pessoal; meu irmão Cleber Fadul +.
Sou grato às lutas e a cada vida que há em mim, que por mim há a mim vá, que a mim passou nessa terra, por cada uma que, mesmo por milésimos de segundos, formam parte da minha história; constituem tudo o que hoje me completo, a cada dia…
Em menos de um mês — ! Céus!! — completarei vinte e cinco anos (25 anos?) e canto. Por quê? Porque sou um cantor.
Todos os dias, em comunhão de realizar o decreto de meu sonhar, pratico,  com alegria, o que eu destemidamente sou: uma voz que canta; e é por isso que a tenho, por isso que a utilizo todos os dias a cantar. Faço os meus shows na solidão da ponta da agulha afiada de onde estou; sou cantor por necessidade; artista por urgência. Foi exatamente para isso que me coloquei a fazer tudo o que fiz; a sofrer o que tive que sofrer, inclusive contrariando definitivamente todos que viam apenas o material e diziam que a arte era para “os ricos”, eu sempre respondia:  “amo a arte, portanto, sou muito rico” — para conseguir pagar o preço que as circunstâncias me propuseram, afastando-me das desculpas. Estudei as atividades mais afastadas da realidade a qual pertencia, com todo melhor de mim: teatro, mágica, canto, arte, idiomas, filosofia — em rumo do Sol, aprendendo, dia a dia, a construir o que hoje é o meu amor pelo conhecimento, em minha concepção.

Arte contemporânea com significado proposicional:

Dispus os objetos do meu escritório em uma proposta de uma instalação contemporânea. Iniciei em 26 de outubro: as folhas estão elucubrando-se no chão.
Fotografarei, todos os dias, até dia 26 de novembro, data em que dois decênios de história portentosos terei.
Eu sou o homem a detestar quase toda a arte contemporânea, em contrapartida, também sou, plasticamente falando, completamente contemporâneo em propostas. O que proponho nessa instalação é muito delicado e simples:
 
… a belíssima flor é uma cantora que se esvai em direção à força da gravidade… — esboça a efemeridade do artista, da arte, e do jovem artista cantor a fazer vinte e cinco anos (25 anos) daqui a praticamente um mês (1 mês) … —  houve um tempo, muito assustadoramente recente, em que a palavra “jovem” não me causava a menor dúvida de seu significado atribuído; hoje, apesar de fazer sentido, ainda… mostra-me que não sou mutante apenas por conta daquela rebeldia adolescente… 
Essa vida à frente canta enquanto todas as suas folhas caem pelo chão, até o último dia de sua existência… ela o faz, porque queima em chamas de amor — eu Vitor, daqui de minha cadeira, a escuto cantar… porque escuto o amor do som que ecoa da força que tem o existir puro e simplesmente, o existir apenas e nada mais; o som do transcorrer em suas belas cores (sonoramente harmônicas, em cada novo dia, pulsando percepções bomba relógio) rumo a consonância que se encontra no uno, na totalidade que me liga a você que me lê, olá.................................. Tum!....... Tum?..... Tum!?…
 
Isso é a vida passando diante de nossos olhos, em nossos ouvidos, por todos os nossos sentidos; é lindo, é mágico, é especial; nenhum de nós estamos prometidos para ver o amanhã, por isso a beleza do presente é uno, é a única que existe;

Na bergère não há presença humana; quando há, por vezes, de soslaio passam os olhos na graciosidade da flor; não existe tempo para senti-la, percebê-la atuando em sua arte, em sua efemeridade; na breve beleza do ser, exatamente o que o divino criou para que ela viesse ao haver… e, simplesmente; saem: "Ocupados", sempre a rolarem as “slot machines” pessoais, unicamente, ou melhor: “pockets machines”. Ocupados com o que creem ser o que devem olhar; no que acreditar; o que consideram concreto e prático para o sub/sob/sobreviver dos dias atuais.

 Ô, breve e linda artista cantora, flor de voz cor efêmera doce arco-íris:
 
— como tens me ensinado a perceber o simples ato de respirar, segundo a segundo… por que, um dia nem sequer nesse universo, pude me esquecer que o fazia? O que me dá movimento ao que faz fazê-lo, exatamente?
 
           Você também o faz…
A sua maneira… mAs… fAz… res(pira)... é V i d(v) A . . .  UaU !


Percebo, de alguma indescritível forma, que tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.


Pois, os propósitos reais destinam-se à todas as lindas e cantoras flores e vocês, seres profundos, cumprem esses reais propósitos sem pestanejar:

“O tempo de nascer…  O tempo de morrer; tempo ser plantar-se, e tempo de arrancar o que plantou-se” — 3:1,2

“Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?” — 3:9:
                             
                                               (…)

“Assim que tenho visto que não há coisa melhor do que alegrar-se o homem nas suas obras, porque essa é a sua porção; pois quem o fará voltar para ver o que será depois dele?” (Eclesiastes — 3:22)

Quem companhia a faz, na maior parte de sua presença enquanto vivência, é o ar e o senhor de todas as coisas; o tempo; sua própria grandiosidade reverberando, ventando para lá e para cá unicamente canções sempiternas à percepção presente dos vendavais uivantes ferinos e katholikos aeviternus

Do (re) existir.
Cair
Do partir.

Enquanto vida há;
Do viver
Reerguer

Do Ser
Estabelecer
Nascer e Morrer

       .;
 
 
     Ser ou não ser?

        ... viver . . .