À deriva

Tenho andando pelo mundo como um desgarrado.

Como se eu tivesse atravessando um deserto, tenho procurando um oásis para saciar minha sede. No entanto, ao invés de água, tenho buscado paz em meio ao caos. Sempre me senti muito conectada ao mundo, com toda a sua agitação. Mas nos últimos dias tenho observado o mundo e visto sua insanidade. Eu não me sinto mais conectada. Na verdade, me sinto deslocada e sem pertencer a lugar nenhum.

Enquanto o mundo tem uma barulheira sem fim, aqui no meu quarto faz um silêncio. Um silêncio gritante. Há diálogos com uma única voz: a minha. São discussões, brigas, afagos, acertos de contas. Meu coração e minha mente têm disputado para saber quem manda em mim – ou apenas têm brincado para ver quem consegue me enlouquecer primeiro.

Acho que todo mundo tem passado por isso – ou não. Há alguns poucos privilegiados que conseguem se manter na ignorância. O que é admirável. Ou até mesmo uma benção. Mas eu não queria fazer parte desse time. Eu não consigo me manter indiferente. Mornidão não serve nem para fazer o meu café.

Não consigo acreditar que somente eu sinta uma falta sufocante de ser feliz. Não sou ingênua de achar que antes éramos plenamente felizes. Não éramos. Sempre parecia faltar algo. Só que hoje parece faltar tudo. E o pouco que parece restar eu me agarro como um náufrago agarra uma boia. Eu me sinto mesmo à deriva – e não estamos todos à deriva? Cansados de remar contra maré de desesperança que parece envolver os nossos ausentes dias.

Talvez eu apenas esteja me deixando afetar demais pelo mundo exterior. Contudo, eu achei no meu interior um mundo à parte em que consigo coexistir comigo mesma. Quando a barulheira do mundo me assusta, eu mergulho em mim e acho meu porto seguro. Tem dado certo por enquanto.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 03/11/2020
Reeditado em 05/08/2021
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