Paraíso Artificial II

O vermelho do sangue contrastava com o branco da neve. Fria.

Eu sentia minhas veias bulirem e o veneno escorrer por entre meus lábios secos.

A dor me consumia cada vez mais, e minha tez clara, por hora,

encontrava-se pálida e anêmica.

Faltava-me ar. A paisagem sumia e as cores se difundiam em plena escuridão.

Formas se dissolviam e palavras se transformavam em ruídos indecifráveis.

Suava frio. Pisei em falso e um profundo abismo me engoliu.

Tudo era plástico. SEm vida, cor ou expressão.

Fisionomias mórbidas e melancólicas habitavam as profundezas.

Vagando solitariamente, em busca de algo invisível a olhos nus, eu

permanecia horas e horas sem saber para onde ir, o que fazer.

As coisas possuiam um brilho sintético.

Eram ocas e opacas, como a mente dos Homens.

Era um paraíso artificial, pseudo-espontâneo, planejado nos mínimos detalhes.

Um paraíso genérico e perfeccionista, feito de ilusões.

Os sentimentos eram de lona, e contradiziam suas raízes.

Não podia se sentir nada. Não existiam humanos. E não-humanos não sentem nada.

Não vivem.Não choram.Não amam verdadeiramente. É tudo prévio. Uma vida prévia.

Carne e osso de resina. Sangue era puro veneno. O veneno da luxúria, da morte.

Mas...já estávamos mortos, e não sabíamos.

.[Paraíso artificial.Sintético.Analógico.Genérico.Irreal.].