O andarilho de mim mesmo

Estive procurando por tanto tempo que já não me lembro mais de quando comecei a sentir essa falta... busquei em incontáveis beijos o toque dos seus lábios, mas tudo o que consegui foi ferir quem sequer havia me machucado, e com isso meu coração sangrava um sangue cada vez mais corrompido de saudades.

Pelas minhas palavras começaram a crescer vestígios de solidão, que ainda estão a me observar, cambaleando pela vida. Solidão essa que espera pelo momento certo para me possuir, como abutre, que espera a presa morrer para se deleitar em carne nova e ainda quente, de um coração que ensaia as últimas notas mortais que lhe restam...

Mas é quando me ponho a deitar que essa falta se transforma em vazio, sentimento de estar só, independentemente de quem se deita ao meu lado. Porque é à noite que os mais profundos pensamentos vêm à tona. E você me faz tanta falta que eu já não sei mais dizer se te ver ao fechar os olhos ainda é sonhar de fato ou se já virou pesadelo, como uma lembrança noturna eterna de alguém que nunca mais estará ao meu lado para me abraçar e dizer que tudo ficaria bem.

Há tempos eu me perdi de mim dentro desse caleidoscópio escarlate de sentimentos, e não estou mais me procurando. Na verdade talvez sequer eu quisesse me encontrar - queria ver você, sorrindo, me abraçando e me dizendo que tudo isso não havia passado de um sonho ruim, e que você estava ali, do meu lado, agora. Mas não está.

Eu sei, não posso mais querer você, mas meu coração não sabe, e parece não conseguir acreditar na sua ausência. Me fecharei em mim, buscando recuperar a minha essência, que se afogou em meio ao sangue amargo da saudade.

Finalmente, quando me encontrar, talvez eu deixe de querer te buscar e simplesmente a permita partir dos meus pensamentos. Enquanto isso não acontece eu permaneço o andarilho de mim mesmo, simplesmente acenando para quem cruza o meu caminho.