Masturbação
Eu não aguento ficar muito tempo sem fazer o que é proibido. É como se de súbito minha alma perdesse a sua vontade de poder. Então dou um jeito e invento que sou dono do mundo, o último eunuco não devassado. Disperso-me entre as pedras, flutuo imóvel na cachoeira fria cujas águas não se dissipam. Vagueio e vadio sobre as têmporas da tarde úmida de Janeiro. Busco consolação. Um tédio manso me atinge com trêmula doçura. Vagueio, vadio que sou. E espalho meus prazeres pelo chão. Que é isso que eu quero senão transmitir todo o meu desejo? Tenho lascívia na pele roxa da minha benga. Que assombro há de fazer essa noite! Comi lentilhas secas vendo a terra girar. Mas não gritei, ensaiei uma dança interdita. Rodopiei, atento ao meu delírio. E gozei, sem suores nem gemidos.