Vozes

Eis-las todas, entrementes, circundantes. Ecoam, soam sempre. Um se cala, outro fala. Eu faço o silêncio que as vozes impedem de nascer.

Entre terráqueos, a experiência humana vagueia entre vozes. A da razão, a da experiência, da ignorância, a de prisão. Ativa, passiva, reflexiva, em cacoete, a retumbante. Quase esqueço da voz de Deus, quer dizer, do povo, que mesmo rouca, se uníssona, jamais se ausculta ou reconhece, embora faça-se ouvir se numerosas forem, mesmo separadas pelo tempo, as bocas que a modulam.

Difusas, loucas as bocas. Elas todas confundem meu zelo pela lógica anti-aristotélica. Ora bem vejamos: se é bom que o silêncio seja feito, que fazer com as vozes que o quebram? Já que as vozes, tão ativas, nos apassivam, por que cargas d'água o pobre silêncio, tão passivo, tem que ser sempre o iniciador e injustamente considerado opressor?

Tão doce seria provar o absolutamente calmo panorama de um grupo de humanos realmente em silêncio... Mas a palavra retumba e, sendo bem poucas e boas, mesmo que um tanto quanto burburinhadas, acabam alegrando a zoeira reinante. Silêncio rompante. De repente, o silêncio se fez. E eu vi que ele também é ilusão. E correr atrás do vento.