Quebra-cabeça

Desde pequena sempre gostei de montar quebra-cabeças. Encontrava todas as peças que faltavam sem nem pestanejar e ainda procurava combinações, conchavos, me apaixonando por cada uma das partes desenhadas. Todos os meus problemas se baseavam naquele pedaço de madeira e a brincadeira estava mais em procurar as partes que formavam a imagem, mas não necessariamente no desenho em si.

No entanto, quando crescemos, o caminho inverso me parece cada vez mais inevitável. Cada vez mais nos preocupamos com o desenho e esquecemos que a bela imagem foi construída apenas por conta das pequeninas e individuais peças, cada uma no seu devido lugar e desenvolvendo sua função.

E no final, percebo que em todos esses anos estava, na verdade, montando a mim mesma. Não digo que sou completa por inteiro, longe disso, mas as peças que procuro são minhas e somente minhas. Não posso entregar alguma das partes para outrem, afinal não encaixariam e as cores não combinariam. Posso, porém, procurar ajudar a montar, reconstruir e atentando, também, para o meu próprio mosaico.

Sou uma eterna construção de mim para eu mesma. Cada peça me reluz e descreve, com a mais retinta cor, quem eu sou. Saiba me ler, me sentir e me montar pois quero, no final das contas, fazer da minha imagem a mais bela, detalhada e, em sua essência, brincadeira de criança.