Bicho Humano

Sensação de inutilidade: não  contribuo com a ciência, nem tenho me dedicado a uma obra-prima, a mim me resta viver como as hordas que vegetam, indignas, na condição embaraçosa de não poder sequer justifcar a própria existência. Sou um ser cuja única função é manter a si próprio, numa sucessão infinita de esforços para fustigar as necessidades que vergastam a carne, qual seja a fome, o sono, a libido, as funções sujas do baixo ventre que a mim não me permitem esquecer minha natureza bestial.

Afirmo ser um ser à procura. Em três décadas, é como se eu tivesse setenta anos, de tão fatigadas que estão minhas retinas, de ter sempre a sensação de que tudo se repete, que o óbvio está sempre à espreita. Preciso de mares a serem desbravados, de algum elixir universal, de uma filosofia derradeira, de alguma descoberta que me sacuda da inércia moral.