Insônia

Já faz um milênio. (às vezes se confunde tudo. Nos meus pensamentos noturnos. Nos sonhos acordada. Confundo meus amores. Tenho pensamentos vagos. Confundo meus amigos. Quando longe até pensei em. Bobagem. Sei que também ja pensaste, mas nunca saberás. Não! é a falta que me leva a tais pensamentos. Nem se por venturas leres. Jamais entenderias. Não é feito pra entender)

Era o outro. Outros pensamentos. Daqueles que levam à loucuras. Agora penso, num delirio, que quem sabe estarias lá. Na varanda. E que me surpreenderias com um beijo. E dançariamos assim. Dirias palavras bem humoradas de sedução. Bastante inteligentes. Seria noite (o era em meu pensamento). Madrugada. Todos estariam à cozinha agora. E dirias coisas impensadas como é de costume seres impensado. E as jamais ditas. Seria tudo como que suspenso, com tensão e força surpreendentes. Harmonia. E farias confissões absurdamente desejaveis. Dirias elogios. E seria em volta de ti, os braços entrelaçados no pescoço, à parede. Até não poderes mais. Até entenderes. As velas, as taças e a musica. À cozinha eles ririam alto. À parede, ao chão. Aos beijos. Como em ondas intensas e eternas. Dormirias assim, como num ninho, acolhido por mim, ja na quase manhã.

(Certa vez ali mesmo, disse absurdos e ofendi-vos. Gritei e difamei-o. Odiei-o. Nunca soubes. Derramei ao chão o copo. E tanto mais em palavras. Para fora o que vinha de dentro. Acordei como num ninho estranho, coberta de confortante outro carinho. Pensei em confundir. Amei mais desde então a outro. Porque estava longe de ti. Porque se fosses tu, a intensidade de ser eu mesma seria aquela. Somente contigo aquela intensidade. E a outros, pensamentos confusos de amor e carinho)

Desperdicio! Desperdiçamos a vida. Jogastes longe e agora será que alcançamos? Tão raro encontrar tão rara sincronia. (Sincronizar. Verbo dificil. Lembro-me). Lancei-me ao longe. Será que és tu ou eu mesma? Será o amor sempre tão confuso que nunca se sabe amor, paixão, amizade? Que se diz do desejo então? E tudo isso? Será a linha divisória entre eu mesma e o outro? Serei eu? Seremos nós?

Desperdicio! Enquanto jamais a fundo, jamais sabido...Te tornarás uma lenda. Todos se tornarão. Até o outro. Que quando não responde quebra e machuca. Mas tu, uma miragem. Minha imagem. A metade. O pedaço.

Não! Por que confundo o outro se sei ser tão estupido pensamento? Se somente tu tens um jeito de soltar a voz e o corpo em onda suave, que se dissolve no fim feito espuma. Quando espumas, deságuo. Vertigens, tonturas. Porque pensas na mesma melodia. Porque mesmo com qualquer, jamais deixará de ser metade. Que mesmo com qualquer jamais será como eu. Sabes que apenas eu tenho aquilo que falta. A espuma. A onda na voz. A música. Jamais será igual. Nem metade. Sem mim, jamais. E lembrarás daquela que era assim. E sorria assim. E cantava assim. E olhava assim de baixo para cima quando olhavas assim de cima para baixo. E não riria de ti se não fosse proposital, pois entenderia cada movimento. Como numa dança intuitiva. Por vocação. Metade por vocação. Talento para ser tua. Como ninguém. Assim como tens. Ah, tens. De que vale nem sei. Mas tens.

(Agora é tão tarde. Quando me deito quase não levanto. Na cama a ausencia é toda maior. Cama é ninho também, me encolho. Mas quisera ficar e ficar. Odeio arrastar-me. E a cidade. Quisera ficar e chorar e pensar e sonhar e ficar. Apenas ficar. Até que tudo seja vida. Até que acordes.)

Elle Henriques
Enviado por Elle Henriques em 08/11/2007
Reeditado em 08/11/2007
Código do texto: T728019