Evolução e destruição

Quem conhece um pouco de mitologia hindu sabe que os três deuses principais dos hindus são Brahma, Vishnu e Shiva. Brahma é o deus que cria; Vishnu, o que preserva e Shiva, o que destrói para que o novo surja. A destruição não é vista pelos hindus como algo negativo, mas positivo e necessário para a harmonia do universo.

Assim, valendo-se da analogia acima, observemos bem a nossa realidade: para que haja evolução, muitas vezes temos que destruir conceitos, ideias e paradigmas. Até a própria ciência, em certas ocasiões, precisa que certos conhecimentos sejam alterados. Na sociedade, tudo precisa ser mudado para que tudo evolua. Muitos são os indivíduos – principalmente os mais conservadores – que não aceitam mudanças, mas estas são inevitáveis.

Há quem afirme que não há problemas em ser conservador e adepto de novas ideias, pois o conservadorismo não se oporia (segundo elas) ao progresso. Porém, se analisarmos certas situações na nossa sociedade humana, concluiremos que, não raramente, precisamos abrir mão de velhas ideias e conceitos para que haja renovação. Além disso, não há como alguém ser conservador e progressista ao mesmo tempo. E, se nos forçarmos a refletir, perceberemos bem que, se dependesse das pessoas mais conservadoras, muitas coisas de ainda seriam como eram há séculos atrás.

Como já foi falado, mesmo conhecimentos científicos podem ser derrubados para que a ciência progrida. Lembremos bem que, até certo tempo atrás, a homossexualidade era vista como uma doença e, mesmo hoje, não são poucas as pessoas que veem a homossexualidade como sem-vergonhice, doença espiritual ou até como algo demoníaco, visto que muitos cristãos apregoam que Deus reprova a homossexualidade. Na África do Sul e nos Estados Unidos, eram justamente os mais conservadores que eram a favor do apartheid, que excluía os negros. Nos Estados Unidos, por muito tempo, negros foram proibidos de frequentar os mesmos lugares que os brancos e um dos motivos que levou Martin Luther King a iniciar sua luta foi o fato de que antes, quando os ônibus lotavam, os negros eram obrigados a ceder seus lugares aos brancos. Acrescentemos que, antigamente, quando as mulheres resolveram se organizar para lutar pelo direito ao voto, foram justamente os conservadores que fizeram uma resistência mais acirrada. E se, nos últimos duzentos anos, os conservadores tivessem prevalecido, ainda haveria escravidão.

Ainda hoje, carregamos resquícios da nossa cultura machista, racista e homofóbica. Não devemos esquecer que, apesar das mulheres terem conquistado direitos, persistem conceitos preconceituosos que culpam a mulher pelo estupro e dizem que serviços domésticos são responsabilidade exclusiva da mulher. Embora o racismo seja velado no Brasil – e não explícito como nos Estados Unidos – ele existe, como uma nódoa na nossa sociedade. Também temos de admitir que hoje, embora os homossexuais tenham ido à luta por seus direitos, os crimes motivados por homofobia estão aí para nos mostrar que não podemos dizer que somos uma sociedade igualitária. E são justamente as pessoas de mentalidade mais conservadora que mais resistem a aceitar mudanças sociais e os direitos das mulheres e dos homossexuais.

Em princípio, não devemos julgar uma pessoa pelos seus posicionamentos. Devemos respeitar todas as pessoas, sejam elas conservadoras ou liberais e admitir que o fato de uma pessoa ser conservadora não significa que ela seja má pessoa. Mas pessoas de mentalidade mais conservadora resistem a aceitar mudanças e dificilmente estão abertas ao diálogo, pois costumam se prender a conceitos e ideias arraigados.