SOLIDÃO OU PRIVILÉGIO?

O desenvolvimento e a profundidade do conhecimento racional, se processam nos limites da intelectualidade, até a divisória que isola o terreno da espiritualidade, onde ao conhecimento específico, o acesso é uma concessão que escapa do poder racional, constituindo-se em uma transcendência que, eventualmente, pode apreender e desenvolver os conhecimentos espirituais, os quais além de inacessíveis pela via racional, são também intransferíveis pela própria racionalidade, e em função dessas peculiaridades, por exemplo, a Bíblia torna-se objeto de uma enorme quantidade de diferentes interpretações, gerando divergências entre as diversas denominações teológicas, que se orientam pela racionalidade, e não conseguem ter acesso ao sentido subjacente à literalidade das palavras, que é essencialmente espiritual. Sem o acesso espiritual, a pretensa intermediação entre Deus e os homens é um malicioso embuste, ou para a melhor interpretação, um conto do vigário, onde os escribas, hábeis sofistas, envolvem os fariseus e prosélitos nas suas sutilezas vazias, utilizando-se desse enorme contingente para acumular riquezas e poder político, este utilizado para as negociações que lhes garantem todas as imunidades fiscais, com a total isenção de impostos e liberdade total para a utilização dos recursos financeiros como lhes aprouver e convier.

O mundo civilizado, como resultado da evolução racional, gira em torno da conjugação de interesses e conveniências dos seres humanos, os quais produziram um núcleo que administra esse contexto, e que chamamos de “Sistema”, e este, explícita ou subliminarmente, estabelece todas as regras do inter-relacionamento humano, sempre preservando os interesses daqueles que comandam o “Sistema”. Quer queiram, quer não, mais ou menos conscientes, ou mesmo totalmente inconscientes, todos são forçados a atender as determinações do “Sistema”, regido pela hierarquia da racionalidade, alojada objetivamente no poderio econômico-financeiro e militar, e subjetivamente no poderio das crenças e superstições, que são disseminadas maliciosamente sobre a ignorância do rebanho.

A consciência maior e mais profunda sobre o conjunto dessas circunstâncias, está em poder das pessoas que se tornaram profundamente espiritualizadas, que são menos exploradas pelo “Sistema”, em virtude das suas próprias opções e do seu discernimento sobre o “Sistema”, que mesmo assim os obriga a se submeter a muitas das suas regras, das quais ninguém consegue escapar. Como predominam as normas do “Sistema”, abrangendo a absoluta maioria, ocorre que as pessoas espiritualizadas vivem confinadas em si mesmas, isoladas e mergulhadas no seu próprio interior, pois elas se tornam incompreensíveis pelos racionalistas, que as conceituam como pessoas estranhas, e isto ocorre porque a compreensão espiritual se transmite exclusivamente de espírito para espírito, o que exige a compatibilidade espiritual, inclusive quanto aos dons espirituais, que são diversificados, como ensina o Apóstolo Paulo.

Entre os racionalistas convictos e os espiritualistas consolidados, existe a camada oscilante, que sofre os martírios dos três espíritos (Natural, Infernal, Angelical), tentando atrai-los para os seus domínios; os dois primeiros oferecendo suas guloseimas, e o último seus sacrifícios. Alguns, (minoria) procuram alcançar a espiritualidade mais profunda, esforçando-se para obtê-la, o que exige muita perseverança, e outros (maioria) se acomodam, permanecendo apenas no começo do caminho, ficando “em cima do muro”, como cópias dos políticos, ou adotando a procrastinação, inconscientes de que a jornada é curta e o tempo se esgota rapidamente.

Esse relativo confinamento espiritual, que produz a solidão no meio da multidão, não é o preço a ser pago pela evolução espiritual, mas sim o privilégio de ter alcançado essa concessão, pois na sua evolução, incorporam-se os conhecimentos espirituais, os quais realmente satisfazem até mesmo os anseios mais profundos das pessoas, e são inapreensíveis pela racionalidade isolada, que não consegue encontrá-los para aliviar os seus tormentos. Afinal, como um paradoxo, quanto mais profunda a espiritualização, tanto maior o desinteresse pelo mundo material, com as suas realizações que desaparecem no túnel do tempo, sem deixar vestígios.

O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são absurdas, e não pode entendê-las, porque se compreendem espiritualmente. Mas aquele que é espiritual compreende todas as coisas, ao passo que ele mesmo não é compreendido por ninguém. (I Coríntios 2:14,15) E quanto a vós, a unção que dele recebestes mantém-se em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine. Mas, a unção que dele vem é verdadeira, não é mentira, e nos ensina a respeito de todas as coisas; permanecei nele assim como ela vos ensinou. (I João 2:27)

A hora é agora: (Assim, pois, no tempo presente restou um remanescente segundo a eleição da Graça) (O remanescente é que será salvo) (Romanos 9:27 e 11:5)

Edgar Alexandroni
Enviado por Edgar Alexandroni em 22/07/2021
Código do texto: T7304873
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