Ainda assim será poesia

Eu amo a arte e ainda assim me ponho no lado oposto dela na balança da vida. Busco um equilíbrio onde o peso se divide entre viver do que amo e viver do que é previsível.

Quem não trabalha com arte talvez não entenda, talvez lhes falte um pouco de empatia ao observar o universo e questionar a própria existência, ao tentar observar a humanidade muito além das suas obrigações e conhecimentos práticos, mas no seu íntimo, admirando a raridade da vida e a subjetividade única do ser.

É um trabalho tão importante, mas tratado de forma tão pobre. As vezes queria emprestar meus olhos para o mundo conseguir ver o quão bela é vida. Por bela não digo perfeita, pois até mesmo no sofrer mais dolorido existe poesia.

É difícil.

Num mundo onde o dinheiro fala mais alto, onde a estabilidade é pré-requisito para qualquer relação funcionar, a imprevisibilidade do artista é uma ameaça ao bom convívio. É um afronte, uma carta assinada pelo fracasso futuro.

Como provar para alguém que não vê versos escritos na lua, que há futuro também no sentir? A única coisa negativa que vejo no meu trabalho é que cada vez mais eu quero ter mais tempo para viver, pois há muitas nuances nas sensações humanas, e eu quero ser capaz de experimentar o máximo que conseguir antes da morte.

O amor é mesmo uma incógnita.

Mas meu amor pela minha arte se compara ao meu amor por quem me deu a vida. Portanto, acredito que a resposta está aqui: nada possui um significado próprio, é sempre um pouco de nós refletido na coisa, ou seja, não há como ensinar o sentir a quem não sente, pois lhe falta algo mais profundo.

Me orgulho do que escolhi, tomo os riscos e as inseguranças como tatuagem nas mãos, que me dizem para dar meu melhor sempre, com amor e fé, para seguir meu caminho.

Quem me acompanha, que não esteja na frente da luz que me ilumina e nem se esconda nas sombras das minhas costas, mas que caminhe ao meu lado, observando os caminhos que escolhi seguir, compreendendo minhas escolhas e me deixando livre para encontrar o que o destino me reserva. Seja companhia ou solidão, ainda assim será poesia.

Joolies
Enviado por Joolies em 29/07/2021
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T7309547
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