Meu pai

Tive pouca convivência com meu pai. Com a morte de minha mãe, ficou sozinho com dois filhos pra criar. Estávamos em Rio Branco, no Acre, para onde ele fora trabalhar como seringueiro. Eu estava com dois anos e minha irmã com cinco. A solução que encontrou foi vender tudo e voltar para Natal, de onde havia saído, e onde poderia contar com a ajuda das irmãs.

De pouca instrução, deixou-nos com elas e foi para o interior do estado trabalhar no único ramo que conhecia: a agricultura. Não nos víamos por longos períodos, mas cheguei a morar com ele dos onze aos treze anos, e depois dos dezoito aos vinte, já em Natal, quando casei e novamente e voltamos a nos separar. Tenho saudades das aventuras que contava, vividas nas selvas amazônicas nos tempos de seringueiro. O que sei dele é que era calmo e pacífico, honesto e muito querido pela vizinhança. Herdamos dele, eu e meus filhos, essas qualidades raras, que cultivamos com orgulho, nossa única fortuna.

Jota Garcia
Enviado por Jota Garcia em 08/08/2021
Código do texto: T7316406
Classificação de conteúdo: seguro