A imagem no espelho
A mulher que vejo refletida no espelho não sou eu, pelo menos, não mais aquilo que se convencionou dizer de mim ou a meu respeito.
Nesses últimos meses, os que precedem aos quarenta, tenho descoberto tantas outras pessoas em mim que às vezes me assusta o que presencio ou reconheço.
Quebrei certezas, rasguei relacionamentos empoeirados, declarei-me mulher, publiquei desejos felinos, implorei carinho, libertei-me da tirania dos consangüíneos, denunciei maus tratos, escrevi e vivi segredos em sentimentos inconfessáveis. Matei, inclusive, a vítima que existia em mim. Publiquei um livro. Nasceu uma mulher determinada, sensual e má.
Até agora, cuidei apenas das minhas plantas, ainda não plantei ser vivo. Decidi parir um outro ser que de mim saia e, tanto quanto eu, experiencie que a felicidade não vem por merecimento apenas, mas diante de bastante luta e algumas lágrimas.
Pois se não conhecemos a dor, como reconheceremos o amor???