Destino

Tenho andado distraída. Tomada pelas minhas urgências. Assombrada pelos meus fantasmas. Buscando razão para minhas alegrias intensas, minhas tristezas absolutas, minhas ausências, meus excessos, minha retidão, meus extremos.

Vejo ironia no caminho por onde trilho. Histórias já vividas, repetidas, mas que deixei para trás.

Amores passageiros na busca de um que jamais há de ser. Voltas e mais voltas, talvez por saber exatamente onde encontrar consolo e direção quando tudo desmoronar. Nem me alarmo, não sofro, apenas caminho e observo.

Vagando pelas madrugadas, escrevendo poemas que não serão lidos por quem eu gostaria. Recordando o passado inteiro e as voltas que o mundo dá. Uma alma inquieta e sedenta, e eu, de alma sempre ingênua, buscando o meu sentimento ressignificar.

Me admiram pela força não reconhecida por mim. Na verdade, me vejo caindo num abismo e já não bato os braços em desespero, apenas abro-os e sinto o vento bater em meu rosto enquanto bagunça meus cabelos. Sensação de liberdade, de queda, de não mais precisar existir.

Me ensinaram que o NÃO é resposta para os momentos de dúvida, hoje me vejo perdida na linguagem do amor. Falsificando esse sentimento. Seguindo sempre em frente, sem olhar para trás, assim como me ensinaram e tropeçando sempre um pouco mais adiante.

Hoje não me esforço para ficar sempre com os pés no chão. Mais uma ironia entre tantas na minha vida. Às vezes, eu quero a sensação do cair no abismo. Ali me encontro, me destruo, me reconstruo, não me limito, não preciso existir. Busco apenas a sensação do vento em meu rosto enquanto aguardo o desconhecido com um fim óbvio e trágico.

Busco que o tempo refaça o que se desfez. Que recolha todo sentimento perdido e o coloque todo em mim outra vez. Busco, talvez, a confiança de segurar na mão de alguém que a estender a mim enquanto também cai em queda livre nesse abismo que é a vida.

Juliana Naves
Enviado por Juliana Naves em 10/08/2021
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