O gnóstico (aquele que a partir do nada conclui)

Não há em mim desprezo por nada, apenas indiferença quanto a tudo enquanto passa, somente no enquanto, e quanto mais menos sinto, pois menos sinto-me. Neste nada de lacunas me desprendo de uma identidade e percebo-me enquanto nada em essência, em atributo imutável, ser. Ao pensar sobre a ótica do dirigir-se sinto nada, sujeito destituído da relação com o objeto torna-se o referido, torno-me a mesma. Ao tornar-me sinto nada e no nada que sinto percebo a absorção do real, seu absoluto, pois deixo a ser o ontem e torno-me novamente o nada contínuo, o em nada. Tomo a consciência de que há uma dança de contraste, sou enquanto nego, nego enquanto sou e deixo-me a ser e enquanto reflito sobre isto percebo que não é nada e que o nada a que me refiro também não significa muita coisa, terceirizo e deixo-me enquanto isto, sou ainda enquanto matéria, indefinido enquanto identidade e percebo que isto é nada. O nada morfológico não me diz muito, a logicidade é insuficiente, pois o é discutível sua relação com o ontológico e enquanto reflito sobre isto percebo que o nada é ideias, não há na experiência lacunas que o encéfalo não preencha e o sensível mostra-se mais uma vez o em si da coisa, a-ideias. Ao refletir sobre o empírico percebo que o racionalismo pode ser uma condenação ao degredo, tão fácil quanto a exaustão que te derruba. Percebo o sono que a razão causa, a sensação de que tudo é o mesmo, uma coisa defronte a outra e o mistério sempre tão incerto. Enquanto reflito percebo ao menos aonde estou a maior parte do tempo, no desconhecido ou deveria dizer, na ânsia do indefinido, na chegada que nunca chega, no chegando que é sempre o mesmo, no nada que não é nada? Sempre o impossível tão estúpido quanto o real, sua validação tão certa quanto aquela, tão fechada quanto o eu, o surreal tão certo quanto tudo, ou deveria dizer, mais que incerto como tudo e o nada tão insistente que não poderia ser nada (insuficiência cinzenta)? Concluo, estamos delirando enquanto morremos ou morremos enquanto deliramos? Deliramos ou tudo é tão certo quanto isto? Tudo é delírio?

Oaj Oluap
Enviado por Oaj Oluap em 10/09/2021
Reeditado em 03/07/2022
Código do texto: T7339106
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