UM POUCO DE MIM

Embora viver em sociedade seja a regra geral e faça parte da natureza humana, eu considerava-me uma exceção a esta regra.

O que a maioria das pessoas não entende é o que ocorre na vida de uma pessoa extremamente ansiosa.

Para compreender um pouco, é relevante observar-se, com cautela, os prejuízos causados por esse transtorno em específico, “Fobia Social/Ansiedade Social”.

São vários os sintomas, que vão, desde formigamentos nas mãos, sudorese, sensação de falta de ar, dores no peito, taquicardia, insônia... enfim, é um inferno. Porque digo isso? Pois, já cheguei a parar em hospitais, por causa de vários destes e outros sintomas, que levaram a brotar algumas crises de “Pânico”.

Coisas comuns, para a maioria das pessoas, como: entrar em ônibus, conversar com desconhecidos (até mesmo conhecidos), ir ao Colégio/Faculdade, festas, Igrejas, dentistas, etc., são fatores que passei a não conseguir encarar.

Imagina uma grande escada, e que cada degrau é um objetivo para conseguir viver. Por exemplo:

• sair de casa sem medo de passar mal, é o primeiro degrau. Ir ao cinema, ou qualquer outro local onde terá contato com várias pessoas, é o segundo degrau. Responder a chamada do professor, em sala de aula, sem medo de ser ridicularizado por isso, é o terceiro degrau. Comer fora de casa (restaurante, lanchonete, Pizzaria...), é o quarto degrau. Ir ao dentista, é mais um degrau desta longa escada.

São vários degraus a serem superados, mas para isso, cada passo a ser dado experimenta algumas sensações.

A sensação de não conseguir permanecer sobre os próprios pés, o tremor em todo corpo, sem contar os vários outros sentimentos esmagadores, sentimentos estes que prejudicam e muito a pessoa (vida pessoal, profissional).

Basta um convite para ir a determinado local e a mente começa a trabalhar de forma célere. Se o convite é aceito (muito raro isso ocorrer) no dia de tal compromisso, tudo parece uma guerra, o mundo passa a ser o pior local do universo, o isolamento total passa a ser o “porto seguro”, nada mais importa, além, do próprio isolamento, um imenso e perigoso mundo que pode proporcionar novos sentimentos/doenças, sendo que a depressão se encontra a um passo de ser alcançada.

Conforme a expressão: todo céu possui o seu próprio inferno., seria este o sentimento de um fóbico social, uma vez que, por mais que este, naquele instante, esteja bem, em um lapso de segundo, tudo que era luz transforma-se na mais completa escuridão, é um abismo sem fim, o poço da solidão.

A grande questão é, onde conseguir apoio? Qual seria a lanterna a fim de iluminar esse caminho? Depende.

Cediço é a opinião alheia em que falta empatia, sobra discriminação e multiplica-se a ignorância com relação à dor do outro. Assim como expressa Erving Goffman¹, de maneira extraordinária, no que diz respeito ao estigma :

"Podem-se mencionar três tipos de estigma nitidamente diferente. Em primeiro lugar, há as abominações do corpo - as várias deformidades físicas. Em segundo, as culpas de caráter individual, percebidas como vontade fraca, paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidade, sendo essas inferidas a partir de relatos conhecidos de, por exemplo, distúrbio mental, prisão, vicio, alcoolismo, homossexualismo, desemprego, tentativas de suicídio e comportamento político radical. Finalmente, há os estigmas tribais de raça, nação e religião, que podem ser transmitidos através de linhagem e contaminar por igual todos os membros de uma família.

Em todos esses exemplos de estigma, entretanto, inclusive aqueles que os gregos tinham em mente, encontram-se as mesmas características sociológicas: um indivíduo que poderia ter sido facilmente recebido na relação social quotidiana possui um traço que pode-se impor a atenção e afastar aqueles que ele encontra, destruindo a possibilidade de atenção para outros atributos seus."

Apontar os “defeitos” no próximo e dizer que é muito fácil de controlar a situação, é tarefa recepcionada por vários indivíduos, uma vez que não sentem “na pele” o que sente alguém com Fobia Social.

É como permanecer-se com uma sacola plástica na cabeça, por vários minutos/horas e dar uma palestra para uma plateia contendo milhões de espectadores, sem retirar a sacola. É como manter-se de cabeça para baixo, dentro de um tanque com água e tubarões famintos ao seu redor.

Parece exagero para alguns, para outros pode parecer ficção, fantasia e imaginação, mas quando uma crise de ansiedade chega, todo segundo vira horas e todas as horas viram um pesadelo, até mesmo pela sensação de não ter controle do próprio corpo, o que reflete em um completo descontrole da vida.

Em tese, resta apenas buscar, no mais profundo da alma, procurar a quem entenda sua dor, uma semente de coragem, a fim de dar um pequeno passo rumo à vontade de viver e de ser feliz.

Percebe-se, que desses passos, além da força de vontade, há necessidade de psicoterapia e acompanhamento psiquiátrico, os quais são primordiais e essenciais a uma boa e saudável recuperação, além de atividade física.

Diante do exposto, enfatizando os sentimentos supramencionados, atente-se ao entendimento que, ninguém melhor do que uma pessoa ansiosa, para descrevê-los, pois, as maiores dores não serão sentidas e nem mesmo os mais altos clamores jamais serão ouvidos, uma vez que estes passam despercebidos pelos que não sabem observar, restando-nos, portanto, a cuidarmos de nós mesmos, sem nunca desistir, pois, somos todos capazes de superar.

Se você leu até aqui, muito obrigado. E seja você quem for, jamais desista dos seus sonhos e objetivos, jamais permita que a opinião negativa de alguém te impeça de viver e ser feliz.

Dói? Demais! Mas qual guerreiro(a) não têm cicatrizes para contar a história? Vá e vença, suba a escada, encare cada degrau a seu tempo, mas não pare.

P.S.: Obrigado por ajudar-me a subir esta escada!

Fernando dos Santos Resende

Escrito em 04/03/2017 e revisado em 01/10/2021.

________________________

¹ ESTIGMA. Notas Sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/92113/mod_resource/content/1/Goffman%3B%20Estigma.pd f . Acesso em: 04 mar. 2017.

Fernando Resende
Enviado por Fernando Resende em 01/10/2021
Código do texto: T7354610
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.