Eu, a escrita e as artes - Uma paixão inesperada

Lembro que meu primeiro encontro coma escrita demorou um pouco pra acontecer. Quando criança amava ler, principalmente, livros e revistas de anime. Na época, não se tinha internet, nem tv a cabo, então lia os guias de capítulos e imaginava como seria as histórias. Apesar disso, não gostava muito de português ou artes.

Na escola, bastava um professor falar que teria algo mais artístico e manual, que logo eu faltava. Era o menino das exatas e das ciências, até a 8º série, matemática era minha matéria favorita, o pessoal da oitava série estranhava quando dizia que estudava ela como hobby. Acredite, as minhas pioras notas eram na matéria de artes, não sabia fazer maquetes, pintura, pra que isso?

Com treze anos, tive bastante dificuldade pra lidar com a mudança de escola, com as inúmeras crises internas que comecei a ter (algo que chamariam de loucura quando completei 15 anos). Passei a me vestir de preto que nem diria uma música dos smiths: “me visto de preto por que é assim que me sinto por dentro”. Eu tinha muitas enciclopédias em casa, eu um dia abri na parte de literatura, e vi um poema que mudaria tudo, “lembranças de morrer” de um poeta chamado Àlvares de Azevedo, que dizia exatamente o que sentia por dentro. O mal do século me picou e me apaixonei pelo romantismo da segunda geração.

Comecei a arriscar a escrever alguns versos e coloquei na cabeça que queria ser escritor e fazer letras. Algo bem radical pra quem gostava mais de matemática. Com algum dinheiro que peguei, fui no sebo pela primeira vez e comprei a Lira dos Vinte anos, a antologia de Azevedo. No começo de cada poema ele fazia uma epigrafe, e eu ia atrás dos autores que ele citava, nunca esqueço do no more, never more de Shelley.

Infelizmente, como pessoas mais próximas sabem, tive um período bem conturbado entre os 15 e 18 anos onde escrevi muito pouco. Período que me levou a começar a terapia. Em algum momento comecei a escrever e-mails para o meu psicólogo da época e ele me incentivou a criar um blog. Comecei a postar no recando das letras com um pseudônimo porque não queria que ninguém soubesse que era eu que escrevia, o garoto isolado, começaria a assinar como RS Schindler em homenagem ao filme a lista de Schindler e também por ser o nome de um amigo imaginário que eu tinha na minha escrita.

Inicialmente, eu escrevia prosa poética porque poesia era muito difícil, eu achava. Um dia, conversando com uma amiga, começamos a recitar e fizemos um poema ali na hora, talvez não fosse tão árduo como pensava, então retomei a escrita da poesia, com 19 anos já estava mais maduro pra isso do que com 13 anos.

Comecei escrevendo poemas para amigos, metade das pessoas que eu conhecia ganhou um poema naquela época. Retomei a leitura de poemas na biblioteca da faculdade e os estudos de português, se tornou um vício escrever até porquê, eu sempre usei a escrita quando emocionalmente não estava bem, e isso era uma frequência ao longo da minha vida.

Mesmo gostando de leitura e de escrever, ainda estava distante de realmente gostar de arte, até que conheci amigas que me ensinaram a gostar de teatro, pintura e cultura no geral além dos livros. Meu gosto pela arte foi crescendo ao longo da faculdade até se tornar uma área de pesquisa pra mim.

No final do meu primeiro da graduação, fui chamado por um editor pra participar de uma coletânea, mesmo com poucos poemas realmente escritos (a maioria era de homenagem aos meus amigos), algo que realmente não esperava. Não tinha dinheiro pra pagar a produção do livro e os meus amigos me ajudaram a levantar o valor, tive pela primeira vez reconhecimento pelo que escrevia, mesmo sendo poemas bem modestos.

Com isso, resolvi sair do anonimato e assinar meus poemas com meu nome, pois percebei que já não dava mais pra dissociar a poesia do que eu sou ou era.

RS Schindler (Renan Souza)

RS Schindler (Renan Souza)
Enviado por RS Schindler (Renan Souza) em 20/10/2021
Código do texto: T7368095
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