Podemos despertar!

Sei que sou chato e egoísta, sou assim e não me orgulho! Que constatação pobre essa minha. Poderei mudar? Claro que posso, mas não sei se devo ou se quero. Cristo meu Deus! Sinto-me agora como um coveiro, vivendo entre lápides, caixões, túmulos, flores, memórias, espaços para novos buracos, porque tudo está morto aqui, assim como nós estamos? Não sei precisamente quando nossa razão e alma pereceram!

Acho que foi quando os meus olhos abertos acordaram, e o mundo e a vida com seus palcos, picadeiros e altares se tornaram em pesadelos com cartões postais, como um inocente bode precisa ainda sorrir enquanto o mesmo é levado para o altar a fim de ser sacrificado em prol de alguma babaquice legalizada ou sacralizada.

Eu me olho, todavia não encontro nada em mim. Nem encontro a mim. Não que eu esteja perdido, porque nada ainda fora plenamente encontrado e desvendado. Se eu ao menos sentisse um vazio em meu ser já seria alguma coisa, já teria algo para sentir, algo para tentar me compelir a alguma reação ou modificação, mas até o vazio se isentou para bem longe de meu corpo. Não sei exatamente o que se passa dentro de mim, pois ao mesmo tempo sinto necessidade de ter pessoas que me amem, que me escutem, que saiam comigo para diversões, que me façam esquecer o que não sei; contudo, automaticamente essa mesma necessidade de tais pessoas se torna ridículas e irritantes em meu íntimo.

Não estou querendo dizer que eu odeio as pessoas, na verdade há amor demais em mim, um amor romantizado.

Apenas acho que ainda choro por todos os que morreram pelo Covid; choro por cada jovem que saiu de casa cheio de sonhos e os pais tiveram que reconhecer o corpo do filho no IML ou no necrotério; choro pelas pessoas que esperam transplante de órgãos e elas estão ainda em uma fila que parece não andar, choro pelos que eu vi antes de ontem procurando comida em latas de lixo; choro pela criança espancada até a morte pela própria mãe, choro pelos que não têm um teto para descansar o corpo e o espírito cansado e esses são casos que ocorrem todos os dias e a gente curtindo fotos e vídeos nas redes sociais, como o idiota que está escrevendo esse texto agora.

Não é nada não, ó coração meu! É só uma dor no estômago e nos olhos. Deixa pra lá. Não estou deprimido, nem estou exausto de criar razões para acordar e levantar da cama. Cultuar a alegria ou a tristeza é perda de tempo? “O que nós queremos? O que nós temos feito por quem está sofrendo mesmo, o que estamos fazendo conosco mesmo!?! Que coisa dramática? Pode ser.

Não quero vendedores de felicidades batendo em minha porta. “O que eu quero mesmo?” Eu quero me libertar de querer e não-querer concomitantemente. Entendeu?! Sei disso, eu magoei algumas pessoas que não mereciam, assim como eu não mereci ser traído por menos de trinta moedas de prata por tantos que eu confiei e julguei amar.

Somos meio que porcos-espinhos tentando abraçar ao outro, porém todos sempre acabam saindo feridos e sangrando. Tanto avanço tecnológico e quanto retrocesso moral, quanto declínio em nossas interações! Como o medo e a estupidez guiam nossos passos!

Lembra-te de que ainda estamos vivos, logo a gente precisar abrir nossos olhos aparentemente abertos: ainda há tempo para despertarmos!

Acho deveras interessante e tão risível agora essas manias humanas em inventar razões para existir, e para se convencer que vale a pena lutar e viver.

"Tudo vale a pena porque a alma pode ser grandiosa, humana e virtuosa?" Claro que podemos encontrar e revelar a verdadeira beleza reprimida ou escassa ou inerte que nos habita!

Eu ainda preciso te amar e me amar e eu sei os porquês, e é justamente isso o que não consigo entender: eu compreendo o amor e o desejo de amar este lindo ser que vive em mim, e não consigo explicar por que sentimos tantos medos e ainda seguimos amando!

Lembra-te de que ainda podemos viver; lembra-te de que ainda há vida não só dentro de nós. A Vida ainda existe e ela pulsa em todos os lugares e altares em que a alma humana queira construir.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 13/11/2021
Reeditado em 14/11/2021
Código do texto: T7384910
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