Esboço de epistemologia _ 2

Para Reid perceber é crer, por isso sua epistemologia é confibialista; a percepção para ele é doxástica, pois ''As operações das nossas mentes são conhecidas, não pelos sentidos, mas pela consciência, cuja autoridade é tão certa e irresistível como aquela dos sentidos.'' ''Em segundo lugar, na percepção não temos somente uma noção mais ou menos distinta do objeto percebido, mas também uma convicção e crença irresistível da sua existência.'' Sendo assim, temos um realismo direto em sua epistemologia, o objeto a nós se apresenta de imediato através do juízo perceptual. No juízo perceptual está incluso a concepção-percepção; para ele a percepção é um ato da mente, uma convicção límpida e dissemelhante de algo que se faz presente, e a concepção seria um elemento constitutivo. Tal elemento formador nos dá alguma noção do objeto, daí a semelhança com Descartes que assume a experiência do mundo sensível através da sensação como o primeiro nível de conhecimento, onde nos é dado uma débil ideia da verdade. Para Reid a percepção não envolve representação, pois a impressão do objeto através dos órgãos sensórios é de imediato e atos mentais são sempre ''imanentes'', nunca ''transitivos''. Primeiro acontece a percepção, depois a concepção da mente de um objeto existente (é onde os órgãos dos sentidos sofrem a impressão do mundo exterior) e por último o juízo perceptual, daí o papel da intuição em sua filosofia, que é uma apreensão simples e direta (sem inferência) de um objeto. Para Descartes a intuição se distingui da dedução pela auto-evidência imediata e por não envolver o pensamento em inferências, porém, a dedução deve partir de premissas verdadeiras e indubitáveis. Para ele o elemento mediador entre mundo sensível e mente é uma ideia, pois há contiguidade entre mente e objeto, a mente age sobre o objeto no ato de perceber e sendo as ideias formas do pensamento, perceber é perceber ideias. Ele distingue concepção de imaginação, por a imaginação não ter contenção do espírito, isto é, da razão. ''[...]; mas vejo que, tanto nisso como em várias outras coisas semelhantes, acostumei-me a perverter e a confundir a ordem da natureza, porque, tendo estes sentimentos ou percepções dos sentidos sido postos em mim [...].'' Sendo assim, perceber também é perceber sentidos, porém, só no espírito, na consciência do sentir é que a ideia sensível se concretiza. Para Reid ele está equivocado em seus enunciados, pois não há ideias, além de ideias não ter força explicativa quanto ao conhecimento, provém da falsa semelhança adotada entre ato mental com o físico, a contiguidade da mente com os processos físicos, orgânicos; a natureza da mente é dessemelhante do processo de ação (no conceitual de força na física) sobre um objeto. Reid se baseia muito nas observações de Newton sobre a teoria da gravitação universal ao propor o seu método de filosofar; a partir de Newton, principalmente, é que Reid privilegia a observação atenta da natureza (fenômeno) seguida da descrição e argumentação a modo de construção de teorias específicas sobre seus conceitos e interesses maiores; a reflexão atenta explica aquilo que Reid deseja dizer com observação e justa indução como componentes das regras do filosofar, ou seja, um parte do ceticismo até a dedução (a partir de uma verdade incontestável), e o outro do realismo direto até a indução; um peca pelo excesso de racionalismo e o outro de empirismo.

O ato mental para Descartes é mecânico, no sentido de que sempre provém da vontade, aqui posto o que nos interessa, o raciocínio. É por sua vez semelhante ao conceito de catexia, ao agir (a ideia) sobre o objeto, porém, como concluímos, todos os atos mentais - percepção, imaginação, concepção, sentidos e lembrança - seriam ideias. Se analisarmos de fora, não só o mundo externo nos é uma representação da ideia como a grande representação de tudo, onde tudo se apresenta a partir dela, como uma força autônoma, mediadora, onde o melhor vocábulo seria ''transportadora'', como também o termo ''ideia'' não tem nenhuma força explicativa e autoexplicativa e nem em contato com outros elementos. Ideia como aqui é posto, tem a função de um grande campo, permeando todas as operações do entendimento humano, que no caso seria a mente. Por isso a redundância de tudo à percepção de ideias na mente, ou seja, seria através da consciência, do cogito? Mas não seria ele uma substância pensante irredutível, tendo as ideias como subproduto apenas como termo autoexplicativo à ação do pensar, sem força explicativa para além dele como produto de processos cognitivos? Talvez a confusão esteja no fato de que a epistemologia de Descartes adentrou em outra área, a filosofia da mente, onde legou à psicologia conjuntamente as suas sete grandes escolas, sendo uma delas a psicanálise; ideia seria a linguagem, aqui no sentido lacaniano, então, não seria a ideia na mente e como transportadora, e sim a linguagem que estrutura a mente junto ao corpo e a realidade que se conjuga aí (nó borromeano). Assim, não seria mundo/eu com implicação causal e ideias em relação consigo mesma (em termos), quase que geradora de si (daí a semelhança com a metafísica monista _ ''Eu sou, eu existo'' _, ou facilmente reduzível a ela), seria eu se e somente se mundo, razão se e somente se linguagem, ou seja, uma interdependência como inferência a partir do ato de pensar. A datar do momento que adotamos um ponto de partida para o processo do pensar, essa adoção metodológica e aparentemente arbitraria torna-se uma grande redutora, aquilo a que tudo deve ser reduzido, nossa premissa maior e ambos fizeram isso de forma magistral.

Dessarte, Descartes em sua busca de uma epistemologia apodítica não vislumbrou que o ato de pensar é contínuo e ininterrupto e não delimitado (em). O ato contínuo, pensando, é uma constatação imediata, sem inferência, logo, o mundo também, o objeto, não como coisa-em-si, mas como ''algo em-si-me''. A interseção entre o sujeito conhecedor e a realidade passível de compreensão é o que constitui o conhecimento, sujeito este inferido pelo pensando ininterrupto, a substância pensante como premissa que inevitavelmente remete ao suprassumo pensante; assim como em nós está em tudo e sendo o que nos diferencia, sendo assim, nos torna homem, provavelmente não estaria em tudo, mesmo sendo a causa de tudo. Como a percepção deriva-se da sensação e a contiguidade entre sensação e causa se dá através do ser percipiente, por conseguinte (pois provém da consciência no impresso), da substância pensante (que é determinante na significação do ser senciente como função, ou seja, entrega de impressões do mundo externo através dos órgãos dos sentidos à percepção), a substância pensante em nós significa tudo (nos é o significante).

Oaj Oluap
Enviado por Oaj Oluap em 11/12/2021
Reeditado em 06/07/2022
Código do texto: T7405089
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