Não quero ser tão pouco

A vida me tem feito perceber que tudo que eu gosto se vai, que tudo que eu toco sempre se esvai e que nada do que acho que tenho me pertence.

Hoje pensei demais nessa vida que tenho levado. No meio de tanta gente, de tanta interação, de tantas companhias que tive nas últimas semanas, eu me senti completamente sozinha. Vazia.

Hoje me questionei sobre as tantas vezes que entreguei meu corpo buscando apenas uma conversa e o peito apertou depois de perceber que em nenhuma dessas vezes alguém realmente me ouviu. Me parece que ninguém quis ouvir nada de mim além daquelas coisas que costumamos dizer ao pé do ouvido. Parece que ninguém me enxergou além da carne, que ninguém me tocou além da pele. Parece que nada me toca mais. Parece que não sinto nada demais vindo do outro e isso faz com que eu sinta tanto, e isso dói tanto.

Eu percebi que venho maquiando a minha solidão com companhias que não me acrescentam em nada, fingindo ser livre e batendo no peito pra dizer que sou dona de mim e faço o que quiser, quando na verdade nada do que eu faço é aquilo que realmente quero, nada do que tenho é o que realmente preciso e nada do que consigo é verdadeiramente aquilo que busco.

E a farsa do "ser livre" me aprisiona na jaula de uma existência fugida, fingindo ser pra não ter que lidar com a dor daquilo que me tornei. Fútil. Sem pudor. Bem fodida, mas mal amada. Bem resolvida, mas sempre com problemas pendentes.

É que todos eles fazem eu me sentir como um pedaço de carne, uma carne gostosa, mas ainda assim um pedaço de carne. E eu já estou tão cansada de ser devorada como uma presa. Eu já estou tão cansada de servir esse banquete aos mortos de fome, saciar seus desejos e depois quase morrer de amor.

E assim sigo me entregando por inteiro a quem só quer corpo, buscando fazer amor com corpos que fazem apenas sexo. Sempre carregando o peso da tristeza da superficialidade de apenas abrir apetites, mendigar carinhos e trocar o corpo por migalhas de afeto.

Eu digo e repito, eu estou tão cansada.

Eu não quero mais tão pouco.

Não quero ser tão pouco.

Eu espero um pouco mais.

Só um pouco.

Angelica Stefaniak
Enviado por Angelica Stefaniak em 27/01/2022
Reeditado em 07/03/2023
Código do texto: T7438893
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