Medos

Eu tenho medo, muito medo, de nunca me sentir pertencida de verdade a um lugar, a alguém, a alguma coisa que seja. Existe um lugar pra mim? Não que ele realmente seja meu, mas existe algum lugar onde eu pelo menos sinta que ele possa ser meu? Acho que até a possibilidade me contentaria mais do que o sentimento que tenho agora, há uns meses. Talvez anos? Não sei, se desconsiderarmos os anos de negação, então eu diria: sim, há uns meses. Negação essa que envolve toda a poeira mental que jogamos de baixo do tapete, para não pensarmos, para ignorarmos e tentar viver bem, satisfeitos e conformados. Conformados. É mais difícil na prática do que nas palavras, livros e filmes. Lutar contra a conformidade e o balanço cego da cabeça em confirmação com as sentenças da vida... Às vezes, acho que a paz vive na ignorância, vive na palavra não dita, no sentimento abafado, no contentamento. Porque ai não dá margem à antítese, à guerra dos opostos. Se eles simplesmente não existirem, ou se pelo menos ocultarmos a sua existência, cresceríamos assim? A vida é dor, já dizia alguém, muitos, talvez. Não sei.