Abdominoplastia: um relato pessoal

Confesso que após ler o capítulo "O corpo jubiloso" do livro Mulheres que correm com os lobos, fiquei em dúvida do meu desejo de realizar a cirurgia de abdominoplastia/lipoenxertia. Isso porque passei a pensar no corpo como constituinte de uma história, onde todos seus traços e características diferenciadas carregam minhas ancestrais junto. Comecei a repensar se o desejo era realmente meu. E nunca é. O que desejamos, o ideal que nos é imposto já é nós bombardeado desde que nascemos, recebemos investimento do outro desde pequenos. Como vivemos em busca de amor para tentar tapar uma falta, buscamos nos encaixar em tudo aquilo que parece que irá nos completar: quando eu ter um corpo belo, vão me amar mais. Quando eu ganhar mais dinheiro, serei mais digna de amor. E não. Não é dever do outro nos completar e dar aquilo que idealizamos. Não desisti da cirurgia, realizei há vinte e dois dias atrás. Mas trabalhei o meu psicológico para entender que não será milagrosa em minha vida, não me trará mais felicidade e que devo buscar cuidar do meu corpo para que ele continue me dando energia e desempenhando suas funções incríveis, não com um ódio e punição disfarçados de cuidado. Abdominoplastia não vai trazer, sozinha, melhora na minha autoestima. Mas a minha consciência vai.