Relato de uma ansiosa em tempos de crise

Estou frustrada, estou cansada de não conseguir fazer nada por conta da ansiedade, de não conseguir focar em nada. Não consigo estudar, nem ler meus livros, não consigo assistir um filme, não consigo focar nem numa conversação, não consigo ter um momento de lazer. Agonia no peito. Confusão mental. Falta de ar. Eaí eu preciso me mexer. Preciso tentar mudar o foco pra não focar na sensação que eu sinto crescendo dentro do meu peito que parece que vai me engolir. Eu não consigo aproveitar os momentos. Eu não consigo viver minha vida. O que era pra ser um momento feliz se torna uma batalha de sobrevivência, uma batalha pra parar de sentir que estou morrendo. Em todos os momentos desde que eu abro meus olhos no raiar da manhã, até o momento que eu os fecho sob a luz do luar, eu sinto meu peito apertar, apertar tão forte a ponto de eu quase implodir e, a qualquer momento, eu deixar de existir. Eu sinto meus pensamentos embaralhando como um furacão embaralhando construções de concreto. Desordem. Caos. Destruição. E de repente minha cabeça fica confusa, confusa, confusa, nada mais faz sentido, parece que minha coordenação motora está debilitada, meus olhos servem apenas como um apetrecho inútil que não processa as informações, meu raciocínio se baseia em múltiplas linhas de pensamento se iniciando simultaneamente às quais não chegam a lugar algum. Eu vejo o ar encher meus pulmões ao mesmo tempo que sinto meu fôlego sucumbir, sei que estou respirando, então por que sinto como se não conseguisse respirar? Será que minhas hemoglobinas não estão fazendo o trabalho delas? Será que meus órgãos estão falhando por não receber oxigênio? Será que estou prestes a morrer? Eu sei que não vou morrer. O que é pior ainda. Pior por que eu sei que não vai passar, pior por que eu sei que vou ter que aguentar essa sensação de pré-morte todos os dias da minha vida, e pior ainda por que eu vou ter que cumprir as responsabilidades de estar viva enquanto eu estou tentando ignorar que estou tendo um ataque cardíaco simultâneo a uma asfixia de maneira constante e contínua. E o que me resta a fazer é deixar o que estou fazendo de lado e fumar um cigarro, o que eu sei que está muito errado, mas eu faço por que eu sinto por instantes meu corpo relaxar enquanto a fumaça adentra meus pulmões já defasados, mesmo sabendo que no instante seguinte eu vou sentir minha carne pesar trêmula e o ar definitivamente não mais fazer o trabalho dele dentro do meu corpo, assim como eu não estou fazendo meu trabalho aqui na vida real. E aí o que realmente me resta fazer é me mexer e respirar fundo. Longas caminhadas normalmente me acalmam, sinto que a medida que estou caminhando, a ansiedade está se esvaindo por dentre o cansaço e o suor exalados por meu corpo, o problema é que longas caminhadas levam longas horas e o sistema capitalista não me permite tal vagabundagem, além de que após alguns momentos parada a sensação retorna rapidamente, e começa toda a história de terror de novo. No final o que eu tenho pra dizer é que eu estou frustrada, me sinto um fracasso, e hoje eu não fiz nada.

Fer Perma
Enviado por Fer Perma em 03/02/2022
Código do texto: T7443975
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