Problemas, Crises...

"Disciplina! Disciplina! DISCIPLINA!". "Deus acima de tudo, Brasil acima de todos!" A Alemanha sob as rédeas do pretenso e prepotente ditador de origem austríaca adotava um discurso bastante similar: "Alemanha acima de tudo" (Deutschland über Alles).

É importante, no exercício do livre pensar, que tudo o que é passível de chegar ao conhecimento humano possa (e deva) se debatido, questionado, avaliado – quanto à sua aplicabilidade e suas consequências (imediatas, a médio e a longo prazo), para se compreender quantas pessoas serão afetadas, direta e indiretamente. (Será que eu preciso ser mais claro?)

Paulo Freire seja meu fiador nessa hora de reflexão, de uso de minhas faculdades racionais em boa forma. Não se trata de fazer mais uma (mais do mesmo) citação do grande pensador e impor um discurso esquerdista, enviesado (esquerda e direita possuem discursos enviesados em causa sui; o difícil é que os representantes desses dois extremos admitam isso; claro: o exercício da autocrítica não favorece ninguém de imediato, correto? De imediato, não. Mas com o tempo esse exercício fortalece a quem o pratica, pois implica em considerar ambos os lados da questão). Não. Não nos importa o autor, a obra, o que quer que seja. Importa a nós a aplicabilidade das ideias dos autores que nós nos propusermos a estudar, para fins de compreensão dessas mesmas ideias e de como elas podem ser peças-chave na mudança do mundo, como propôs Marx em sua 11ª das "Teses Sobre Feuerbach": "Os filósofos do mundo não têm feito outra coisa senão interpretá-lo. O que importa é modificá-lo." Palmas para o pensador alemão. É bem por aí mesmo. Mas... "mudar o mundo"? Para que? Por quê? Como? Quando? Com que objetivos? Essas indagações podem ser respondidas por todos; o problema é quando elas (as respostas) assumem um viés pessoal, individualista ou, para ser mais plural, coletivo: partidário. A praga político-ideológica que resultou na morte cruel de milhões de sectários do Judaísmo, durante a 2ª Grande Guerra se pautava em um forte idealismo político: tornar a Alemanha uma nação independente, extremamente forte, limpa (sob a ótica da Eugenia) e, por que não, a 1ª potência mundial, sob vários aspectos. Ora, como o país se encontrava arrasado, grande parte do povo aceitou o discurso do ditador germânico como a única solução para a nação alemã. Mesmo porque, até então, o autor de "Minha Luta" não tinha deixado muito claro suas reais intenções...

"Mas WV, onde diabos Você quer chegar, homem, com esse discurso meio 'vai-e-vem'?"

Eu explico, pode deixar. Sem problemas. Vejamos:

A aceitação de um debate – pautado no exercício da Democracia (lato sensu) – muito bem mediado, com oportunidades iguais de todos manifestarem suas ideias, bem como seu posicionamento político, deve abrir espaço para a interpretação, avaliação e consideração final sobre o que foi discutido durante esse pleno exercício da manifestação das ideias (de modo mais claro e público possível, para não haver o menor resquício de dúvidas quanto a um ou mais posicionamentos).

Compreender não implica aceitar. E o que é mais difícil: compreender implica mobilizar uma enorme quantidade de sinapses, porque nos obriga a deixarmos opiniões que já se cristalizaram em nossa mente, às vezes tornando-se puro preconceito. Compreender é o exerício último do raciocínio humano. Aceitar, esse verbo crítico, de primeira conjugação, já é outra história. Eu, para exemplo do que estou falando, compreendo a existência de muitas atitudes contrárias ao bom senso; não obstante, não as aceito.

E, por falarmos em Paulo Freire, a mera citação de sua importância à educação brasileira ("Educação"? "Brasileira"?) não passa de mera demagogia. Sabem por quê? Porque a escola brasileira está subordinadíssima a um Ministério da Educação que, ao longo do tempo, está, por seu turno, à mercê dos mandos e desmandos dos presidentes da República. E, como já vimos até agora, sejam eles de esquerda ou direita, nunca fizeram nada que fosse digno de nota quanto à liberdade de cátedra docente.

"Mas WV, onde Você quer chegar?"

Vamos lá, vai.

Eu quero sintetizar tudo o que eu disse até agora. Se em "Convite à Filosofia" Marilena Chauí finaliza declarando que "No Brasil a Democracia está por ser inventada", eu digo mais. Como inventar a Democracia se não há sequer uma Educação que priorize a liberdade de escolha por parte de nossos alunos quanto ao que devem aprender? Como, por falarmos nisso, traremos a Educação Verdadeira (aquela, em que nenhum conteúdo desnecessário é imposto na escola; e que tanto professores quanto alunos teriam liberdade para, mediante a livre e clara troca de conhecimentos, poderiam, ao deixar a escola e, mesmo no dia seguinte, ao voltar para ela, aplicar o que aprenderam no dia anterior: Educação Financeira, Cidadania, Solidariedade, Comunicação, Solução de Conflitos etc.).

(Eu tenho um problema com a transposição de minhas ideias às mídias. Isso se chama prolixidade. Eu escrevo muito – mas nunca escrevo com clareza. Porque eu deveria ler muito mais – em medida muito maior do que eu escrevo... Mas eu já falei que aprendi a ler e a escrever FORA DA ESCOLA? Não, né? Mas alguns de meus alunos já souberam disso... Um dia eu vou contar sobre esse desenvolvimento dessas duas habilidades básicas.)