Ser bióloga

Ser bióloga não é desafiar predadores para mostrar domínio e coragem,

é sim, compreender a beleza histórica e profunda de cada ser.

"Belos em si", disse Aristóteles.

A Biologia é uma profissão que não vê, ou não devia ver o mundo pela ótica reducionista do "útil" ou " nocivo" ao homem, ou ainda, uso de um animal para se tratar de uma grande linhagem. É portanto crucial que os cursos deveriam se reestruturar com muita ênfase nas disciplinas que tratam dos seres vivos, sua origem, seus processos evolutivos, suas homologias, suas convergências adaptativas, sua distribuição geográfica.

Esse olhar distinto de admiração pela vida e todas as suas manifestações e processos, não permitem que se qualifique os seres vivos como "feios", "asquerosos", "nojentos". Quem duvidaria que o morcego acha bonita a fêmea de sua espécie, sua companheira? E como julgar mal as baratas, percevejos, formigas, aranhas, escorpiões quando seus comportamentos sofisticados e ritualizados desencadeados por ferômonios ou perfumes que lhes garantem comunicação com indivíduos de sua espécie, e se acham na natureza para s acasalamentos, empreendem ações de defesa, de agregação e alarme?

Então, está na hora de nos apaixonarmos pelo mundo natural, nos interessarmos por sua história, e abandonarmos de vez os preconceitos e referências negativas sobre suas necessidades. Os mosquitos incomodam os seres humanos especialmente no calor porque nessa estação há um aumento da taxa de reprodução, e, se eventualmente nos picam, são fêmeas, que precisam de um repasto sanguíneo para o completo desenvolvimento e maturação dos ovos. Como nos proteger? Estudando tudo sobre a biologia do inseto, que geralmente é o vetor de microrganismos que podem nos afetar. Ficou um discurso justo. Agora temos então, um(a) profissional que sabe se colocar na pele, na concha, no exoesqueleto, sob as escamas dos bichos todos, e respeitá-los e defendê-los. E que ao conhecer as origens e parentescos, não cometerá a gafe biológica de ter aversão por artrópodes terrestres e no mar curtir lagostas, camarões siris, caranguejos!

Biólogos-as, ecólogos-as, ambientalistas, e obviamente todas as pessoas que sabem sobre a importância da flora e fauna, sofreram horrores ao verem as imagens e fotos da matança orquestrada nas nossas matas dos animais que queimaram junto com a destruição de seus habitats. "Se queimadas continuarem, Pantanal tende a virar um deserto, pois sequências de eventos climáticos e governamentais deixam o bioma em alerta máximo."*

A Amazônia também tem sofrido com desmatamentos e exploração sem limites, causando tragédias que penalizam grupos sociais vulneráveis no Brasil. A intensificação de eventos climáticos extremos, como inundações aumentaram o risco de contágio de mais da metade das doenças infecciosas.**

Infelizmente, todos sabemos que instituições financeiras norte-americanas e brasileiras tem financiado a ação deletéria na Amazônia, investindo em mineradoras que fazem pressão para operar em territórios indígenas.***

Esta Era é a história triste desses últimos anos, mas tem quem não derramou uma lágrima sequer nem pelos 649 mil corpos de Homo sapiens que tombaram nessa última pandemia. Os bichos, morcegos, macacos, seguem sua sina de serem mortos por conta de divulgações incompletas ou errôneas de sua relação de transmissão de doenças aos humanos. Quem reconhece a diferença entre morcegos frugívoros e insetívoros e hematógagos?

O Planeta não nos distinguirá, não selecionará, a destruição de um de nós por crimes contra o ambiente será a de todos.

* Catástrofe Ambiental: Biólogo Gustavo Figueroa, do SOS Pantanal. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/01/08/se-queimadas-continuarem-pantanal-tende-a-virar-um-deserto-afirma-biologo.

** ClimaInfo: Site no Instagram de Notícias e Mídia. Informações e notícias sobre mudanças climáticas, energia, economia global, sustentabilidade, florestas e cidades. São Paulo, Brasil. Email: contato@climainfo.org.br

https://jornal.usp.br/atualidades/desmatamento-amazonico-potencializa-incendios-no-pantanal/

***De Wall Street à Amazônia: Grande Capital financia desmatamento via mineração. Disponível em:

https://www.ihu.unisinos.br/616730-de-wall-street-a-amazonia-grande-capital-financia-desmatamento-via-mineracao