do alto do castelo
me desvencilhar da ideia de amor romântico nunca foi tão difícil como nessa manhã de quinta feira
ontem me deparei com a possibilidade de o amor da minha vida não ser você
e acordei com uma sensação bem próxima de: náusea
me assustei com a primeira vez que te imaginei em algum lugar dessa dimensão
que não fosse num futuro do meu lado
a ideia de amor romântico sempre caminhou muito próximo aos meus planos
e quando você chegou,
enxergar em você todos os próximos amores da minha vida
apagou de mim toda probabilidade de procurar algum destes
em outro alguém.
mas fui de encontro à realidade:
o amor romântico me garantiu que era você
e que não havia como, não ser
e como um vento precedente à chuva
uma voz lançou dúvida ao nosso conto de fadas
me lembro de mal conseguir mover a expressão do meu rosto:
não é possível que depois de te conhecer,
exista uma vida longe de você
e talvez este seja o desafio
se tanto te quero livre
se tanto me quero livre
não posso me assustar a ponto de sentir algo aqui dentro quebrar
em imaginar teus passos direcionados a outro caminho
que não seja o mesmo que o meu
provavelmente,
a venda do amor romântico que cobria meus olhos e me garantia que essa história de amor alcançaria os próximos séculos
caiu
e mesmo assim, possamos nos tornar um enredo épico
mas agora estou presa num castelo sem paredes
- sem garantias
de que essa narrativa ocorra sem interrupções ou desfechos lancinantes
e talvez essa fosse pra ser a graça do afeto
e da liberdade:
a incerteza do cosmos
e a certeza do querer
mas por aqui,
do alto da projeção de controle
do alto da minha própria torre
nos vejo existir
e daqui, é alto pra cair
mas todo afeto é um risco
e esse é o encanto
em se permitir.