Sobre medos, tempo e ciganas
Abro uma porta, mas não vejo uma nova cena. Onde estou não tem próximo capítulo. Ele tem sido feito no tracejar de meu cotidiano. Sinto o medo, mas não cedo a ele. Sentamos para tomar uma cerveja. Encaro-o de frente. Não confio nele; sei que me leva para territórios duros, seguros demais. A cigana todo dia me alerta para que eu não mantenha meus pés em terra firme, demais. Mas sou terrestre. Aterro-me, mas não planto. Ela me dá a mão e me leva para passear. Convidamos o tempo a ir junto. Ele vem sem qualquer pudor. Ele passa. O tempo questiona ao medo: quanto durará? A cigana acalenta o medo, o coloca no colo e o nina. O tempo se acalma, porque o medo parou de chorar. O tempo quer se despedir, mas teme sair e deixar o medo sob a tutela da cigana. Mas nem o tempo pode contra a cigana, quando ela insiste em lhe tomar, também, em seu colo. Velha sábia, colo acalentador.