Línguas e Mitos do Nada

Palavras causam impressões na alma. Tanto na parte racional, isto é, aquela que distingue o que é verdadeiro do que é falso, quanto naquela outra que distingue medo de confiança, dor de prazer, simpatia de antipatia e emoções mais subjetivas no geral. Para que uma palavra seja significativa ela deve agir nestes dois aspectos psíquicos equilibradamente; equilibradamente na medida do equilíbrio relativo a cada situação particular. No entanto, percebe-se que frequentemente usam-se palavras apenas por certa impressão emocional que elas causam sem se pensar num significado objetivo proveniente da realidade para elas. Assim se montam não só slogans vazios e ao mesmo tempo arrebatadores mas também cosmovisões inteiras totalmente desconexas da verdade.

Este uso distorcido das palavras é visível, por exemplo, no mau jornalismo, que distanciando-se da linguagem denotativa mais propriamente objetiva enche a notícia de modalizadores e se aproxima duma linguagem mais emotiva e apelativa com o intuito de manipular os fatos e as pessoas. Ao invés de reportar que “X fez Y à Z”, diz que “O terrível e malvado X fez o hediondo crime de Y contra o pobre e inocente Z”. E usando X, Y e Z reiteradas vezes nesse mesmo sentido consegue fazer com que essas próprias palavras causem reação emocional automática no psicológico de muitas pessoas, ao mesmo tempo que as distanciam daquilo que objetivamente elas deveriam designar.

Isto foi um exemplo, mas esse processo acontece o tempo todo em muitas outras circunstâncias. Veja como pessoas que não faziam a mínima ideia do que é comunismo (e continuam não fazendo) sentiram medo deste satanás sem saber que coisa a palavra designa.

Por outro lado, principalmente entre mais jovens, há uso exaustivo do termo “fascismo” sem qualquer preocupação com o significado concreto dele. O termo “fascista” passou a expressar então: aquele que não fala minha língua, que não vê o mundo pelas lentes da mitologia que eu escolhi.

Com os valores onde se alicerça uma cultura dissolvidos pelo materialismo, caímos todos num abismo. Rejeita-se Deus, mas a vaga de Ser-Supremo continua lá pronta pra ser preenchida por qualquer coisa. Também há vagas para demônios, pecado original, redenção, éden e tudo o mais. Jovens e velhos saem por aí em busca de candidatos pra estes cargos, devorando frases de efeito, idolatrando ideologias e militando por elas. Nestas pessoas poderá ser muito efetivo um discurso de palavras cujo significado racional e sustentado na realidade objetiva fora violentado para ceder espaço ao impacto emotivo, como se se tornassem gatilhos hipnóticos de sentimentos.

Kyá
Enviado por Kyá em 09/05/2022
Reeditado em 06/07/2022
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