Sobre a questão da convincência da Verdade

> Nietzsche disse em uma citação de sua obra Assim falou Zaratustra: “ E quando alguém atravessa a fogueira por sua doutrina, o que isto prova? Coisa muito divina é quando da própria fogueira surge a doutrina”. Neste trecho, Nietzsche nos revela que demonstrações físicas, atos ou ações realizados não provam a veracidade real de uma convicção, de um credo, de uma verdade. Durante toda a historia humana, temos milhares de casos de demonstrações humanas por meio de ações comportamentais que visam comprovar a veracidade do objeto que se acredita, que se tem fé, que se tem convicção.

Mas os atos praticados por uma pessoa não provam que o objeto de sua convicção exista de forma absoluta, de forma independente, que exista por si mesma.

Na verdade, os atos praticados por um pagão, por um muçulmano, por um espírita, ou cristão não provam que o ser a qual atribuem sua fé exista realmente. As ações realizadas por uma pessoa demonstram tão somente que o indivíduo acredita naquilo que lhe disseram, ou que lhe ensinaram, ou que lhe incutiram em seu cérebro.

Por tanto, ver pessoas chorando em uma igreja, cantando e dançando para um ser divino, se ajoelhando para orar a uma divindade qualquer, tudo isso apenas prova o ato de se acreditar no que se quer, ou no que queriam que você acreditasse.

O ato de se acreditar em alguma coisa não prova que essa alguma coisa seja verdadeira, exista de fato, exista por si mesma. O ato de acreditar em alguma coisa somente prova e revela que a pessoa decidiu acreditar. E o que é acreditar? É dar crédito e confiança a algo, é aceitar algo como sendo verdadeiro.

Orar a Deus é um ato, é um acontecimento, é uma demonstração externada de que eu acredito em Deus. Mas isto prova que Deus exista de fato?

Haver planetas e galáxias provam sem sombra de dúvida que Deus existe?

Claro que não. A minha ação de me ajoelhar para orar a Deus unicamente prova que eu acredito nele, mas não que ele exista de fato.

Quantas pessoas já viram Deus construir igrejas para que seu rebanho purificado se reúna para orar a ele? Quantos já viram Deus ir de porta-em-porta para anunciar com comprovações irrefutáveis que ele existe, e que sua palavra é poderosa e verdadeira?

Quantos já viram Deus ir para guerras, a fim de destruir todos aqueles que não acreditam nele?

Sem o ser humano Deus não dá um único passo. Se não fosse o homem a quem Deus acusa de serem pecadores, se não fossem estes mesmos pecadores, Deus não teria sequer uma única igreja para se falar a respeito dele;

Se não fosse o homem, Deus não teria seu Livrinho sagrado; se não fosse o homem, Deus não teria sequer um mero nome.

Deus existe graças ao homem. Sem o ser humano, Deus não faz absolutamente nada.

Eu vos pergunto: a verdade muda o homem, ou não será que é o homem que decidi mudar a si mesmo em prol da verdade que ele resolve acreditar?

Nenhuma verdade muda o ser humano, o homem é que se deixa convencer pelo que é dito por alguém. O homem muda a si mesmo para provar a si e aos outros que a verdade que ele resolveu acreditar é mais poderosa e verdadeira do que as demais que existem por aí.

Então o homem adapta o seu comportamento e opiniões, para as diretrizes que caracterizam a verdade crida.

É interessante notarmos que toda verdade tem suas próprias características, justamente para se mostrarem mais sublimes e verdadeiras do que as outras.

Verdades e convicções são como segmentos políticos, cada qual usa de seus artifícios e subterfúgios para agregar o maior número de adeptos possíveis a seus “partidos divinos”.

Toda verdade é puro egocentrismo.

O indivíduo que muda a sua maneira de ser e de pensar devido a sua filiação a uma determinada verdade revela e prova apenas o ato de adaptar a si mesmo ao objeto que se quer acreditar.

Ninguém nunca viu a verdade defendendo a si mesma, propagando seus ensinamentos. O Homem é quem advoga suas verdades cridas e tão indefesas.

Alguém dirá que Cristo era a verdade enviada por Deus na forma de homem que veio ao mundo propagar os ensinamentos de Deus. Porém, Jesus acreditava que ele era a verdade, assim como outros milhares também disseram ser a verdade enviada por um ser divino. De modo que as ações de Jesus visavam demonstrar que ele era o messias, o salvador. Ele acreditava nisso, e morreu por esta convicção. Sem mencionarmos os tantos contrates que existem na bíblia.

Nenhuma verdade tem poder de levantar um mero tijolo. O homem é quem levanta o tijolo afirmando aos que estão ao redor que ele levantou o tijolo movido pelo poder da verdade que ele crê.

Tão infantil.

Deus precisou, e ainda precisa do homem para continuar existindo.

Um Deus tão onipotente, tão perfeito e puro, o qual precisa de seres que ele mesmo chama de pecadores, a qual ele precisa tanto para divulgar suas doutrinas, suas verdades.

O Ser Perfeito totalmente dependente de seres imperfeitos para se revelar ao mundo como sendo perfeito.

Que antítese.

“ Em nome de minha verdade, pelo poder de minha verdade eu atravesso sem medo a fogueira. Mas por que será que minha tão sublime e poderosa verdade não atravessa a fogueira com seus próprios pés, e assim provaria a todos que ela existe, e que ela é poderosa por si mesma?”

Não há Deus.

Há somente demonstrações decorridas das ações humanas do ato de se acreditar Nele.

Gilliard Alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 25/11/2007
Reeditado em 27/11/2007
Código do texto: T752448
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