Às vezes é amor, às vezes não é nada

Às vezes eu queria ser outra pessoa.

Uma pessoa como ela, que parece não ter uma definição no dicionário.

Não acharam em que lugar da biologia ela se encaixa.

Não acharam nenhuma foto de seu sorriso.

Não acharam nenhum registro.

Não acharam nada.

Às vezes queria ser o Eduardo, que não comentou nada quando viu que a minha tinha tinta no cabelo.

Essa menina tinha. Tinha muita tinta. E eu comentei, com muito respeito.

Se as cores definem o humor, ela continuava incerta quando tentei contar para alguém sobre ela.

Então eu nunca contei.

Não contei nada.

Às vezes queria me lembrar mais dela.

Ela tinha algo de peculiar que não dava de explicar assim, em pouco tempo.

Eu mesmo passei horas só para lembrar se tinha "Y" no seu nome ou não.

Só lembrava que ela era diferente de todas.

Não se parecia com ninguém.

Não se parecia com nada.

Ah, ela gostava de plantas.

Às vezes conversava, desabafava, orientava e aconselhava seres vivos que mal se mexiam.

Eu me incluo nessa classe. Quando ela fala comigo mal me mexo.

Fico imóvel admirando as indefinições dela quando está na minha frente.

Eu sinto medo.

Eu sinto alívio.

E depois disso não sinto mais nada.

Tudo bem, ela não é minha. Às vezes esqueço isso.

Não que seja o maior problema de hoje.

E não que ela pertença a alguém em definitivo.

Em todo caso, ela está do meu lado, segundo a própria. Ela disse que posso contar com ela.

É por isso que fiquei com medo de contar essa história.

E se alguém um dia ler isso, por favor, seja discreto.

Afinal, espero que dê tudo certo.

Ou então espero não dê em nada.

Admito e repito: ela é linda! Incrível. Tudo o que eu pedi. Inteligente, simpática, educada, como eu nunca vi.

Às vezes eu queria ser somente dela, e ficar admirando-a.

Olhando as plantas que ela plantou, olhando as pessoas que ela conquistou.

E pensando se o que ela despertou em mim foi amor, ou se foi paixão isso que no meu peito brotou.

Só sei que quando ela perguntou se eu queria lhe dizer alguma coisa, com muita coragem eu respondi: "nada..."

Queria rimar coisas como "eu e ela"

Queria rimar coisas como "minha amada"

Mas só escrevo coisas que me deixam longe dela.

E longe dela não consigo pensar mais em nada.

Geovani Nogueira
Enviado por Geovani Nogueira em 30/05/2022
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