Minha bela descoberta didática do amadurecimento

Eu me reinventei. Ressignifiquei o que para mim seria um tanto dolorido. Quando menos esperei, amadureci e lapidei o meu modo de sentir mediante os infortúnios da vida. Hoje, e mais precisamente agora, consigo transmitir o meu processo de amadurecimento sem perceber aos que mais tanto me ouvem. Não obstante, intuitivamente à luz da experiência empírica tenho a percepção apurada de que realmente a dor tem uma função didática, cujo aprendizado não se concentra apenas em mim e na minha experiência advinda de uma expectativa quebrada, e nesses termos errante, mas permite que eu estenda tal função com sua elasticidade ensinando aos que estão com os corações dilacerados pelo medo e pela insegurança ao meu redor. Durante alguns dias e até mesmo horas atrás, eu prolatei para uma amiga bem chegada de uma forma tão mais leve, refletindo consequentemente a conclusão da graduação da minha aceitação que existem amores que são da nossa vida, mas não são para a nossa vida. E pasme, há um bocado de distância entre as duas coisas, embora o único mísero detalhe que torne as frases distintas seja uma mera preposição. Prosseguindo no raciocínio, um dia foi muito difícil dizer isso em voz alta para mim mesma, até porque nós, seres humanos dotados da capacidade de amarmos, e nos doarmos constantemente ao que por um momento julgamos passível de ser eterno cronologicamente falando, temos uma leve tendência em querer que tudo o que escolhemos nos prender dure para sempre. E aí eu me recordo de outro aprendizado, segundo o qual amar também é deixar ir. Até porque independentemente da duração, o sentimento mais importante que pode perdurar por toda uma vida é o sentimento de gratidão por ter conhecido alguém que fez uma passagem bela e especial em nossas vidas, que nos ajudou a evoluir e a enxergar a vida de uma forma mais holística e menos medíocre. Aliás, em meu pulsado coração não há espaço para a mediocridade. Por conseguinte, a aceitação da premissa anteriormente falada é fundamental, pois amanhã algumas coisas podem até mudarem, mas não podemos nos abster de lidar com as circunstâncias do hoje, porque a minha realidade é o que está no hoje, e não sei qual é o prazo de vigência do ser daquilo que é hoje. Assim, eu torno a vida mais leve no ápice da sabedoria de que não posso depositar todas as minhas expectativas em uma possibilidade, em uma lembrança, em nada que seja apenas uma coisa única. Ter uma visão unidimensional da vida vai contra o caminho da felicidade e da autorrealização. Mas sabe, amadurecendo as minhas ideias eu venho me desprendendo para lá dessa ideia de que eterno é somente aquilo cuja execução se estende no tempo. O eterno, segundo o escritor Carlos Drummond de Andrade, é tudo aquilo que com intensidade se petrifica no coração em uma fração de segundo. Então tudo o que eu decidi carregar comigo também é eterno. Eu sou eterna. Você é eterno. Todos nós somos seres profícuos e inteiros, sem essa ideia de metades. Não disponho mais de tanta energia para entender o porquê de algumas coisas em um lapso tão curto de tempo, pois ainda há tanto tempo no mundo. E o melhor de tudo é que eu sou minha novidade diária.

Ane Cardoso
Enviado por Ane Cardoso em 23/06/2022
Reeditado em 24/06/2022
Código do texto: T7544430
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