Corpo-espreita

Lá vai a agitação. Assisto em câmera lenta o corpo-combate dissipando. Continuo atenta, só que agora como um gato à espreita. A espreita é uma estética interessante. Sinto-me atenta, mas calma. Espero o momento, sem estar passiva. Capto cada detalhe do acontecimento. Sigo-o com os olhos das intensidades que me habitam. Posso aguardar por séculos, décadas, anos, dias, horas, minutos, segundos.....lá vem. Sinto ser afetada e ao mesmo tempo não. São sentimentos que co-existem. É uma catatonia calculada. Meus reflexos estão aguçados. É o mundo acontecendo em mim e eu me empresto a ele. Empresto meu corpo como quem incorpora. Sou boa em emprestar corpo. Sinto-me divertidamente livre quando sou tomada pelos devires animais, dos empréstimos aos quais me disponho. Posso ser não sendo nada. Nada, eis o vazio. O vazio também me habita. Não dói, é um jeito que inventei de afastar o Eu. Esvaziar-me de eu, dando espaço ao que nem existe ainda.