Faça acontecer

Eu, que adoro escrever, gosto também de pensar na vida, na nossa experiência por esse mundo, como uma história, um livro, cuja autoria é nossa e apenas nossa. Nesse sentido, então, se somos os donos do lápis e detemos sobre nossas mãos folhas em branco, está em nós o poder de fazer acontecer. Não são as pessoas que precisam nos garantir uma história bem escrita, não são os seres que não enxergamos, se assim existirem, que precisam criar enredos, ilustrar cenários e nos colocar diante dos melhores personagens que poderíamos conhecer. Somos nós. É de nossa responsabilidade fazer a vida acontecer.

Crie memórias: dance na chuva, faça sua própria música e traga alegria para as pessoas (Martha Medeiros)

E não precisamos de muito para que o livro da nossa vida seja escrito. Precisamos, apenas, de coragem por fazer os capítulos se desenvolverem, as cenas transcorrerem e os diálogos acontecerem. Mas, então, questiono: estamos mesmo desenvolvendo nossas histórias? Ou será que insistimos em manter as páginas intactas, colecionando poeira, mantendo tudo como está, com medo de que uma simples vírgula mude toda a realidade como a concebemos?

Sabe... Nós vivemos pautados em visões limitadas sobre a vida. Passamos boa parte do tempo que temos procurando por “porquês”, por razões, por relações de causa e efeito. Vemos a vida como uma engrenagem. E filtramos nossa visão de mundo a partir do paradigma que fortalecemos conforme pensamos encontrar as respostas buscadas para aqueles “porquês”. Vemos a vida de uma forma irredutível. Tudo é encarado a partir do filtro que criamos. E ficamos incapazes de assimilar, em nossa mente, quando novas configurações surgem. Daí o medo de colocar um ponto final e iniciar um capítulo novo. Pode ser que, ao virar a página, nos deparemos com imagens até então desconhecidas.

Mas manter-nos estáticos, encarando a folha sem tomar uma decisão, lança-nos para aquela sensação de insuficiência, de insatisfação, de vazio. É como se, ao olhar para nós, para o nosso passado, não consigamos encontrar memórias que nos ajudem a definir quem somos, que vida tivemos e pelo que seremos lembrados quando só formos lembranças. Mas como teremos memórias se não escrevemos histórias? Como teremos recordações se não nos permitimos a um sorriso novo, a um abraço novo, a um novo amor? Como construiremos lembranças se não colocamos uma simples vírgula para mudar o final do parágrafo? Às vezes só precisamos disso: de uma simples, porém transformadora, vírgula.

Assuma o livro bem diante dos seus olhos. Não deixe o lápis caído sobre a mesa nem as páginas amarelarem enquanto se enchem de poeira. Não assista apenas a história dos outros acontecer enquanto poderia estar escrevendo a sua própria. Faça acontecer. Coloque uma vírgula ou um ponto final. Crie uma reviravolta no capítulo ou inicie um completamente novo. Apenas não desista de escrever uma história que em um futuro distante, quando você não estiver mais aqui, possa inspirar alguém a também escrever seu próprio livro!

(Texto de @Amilton.Jnior)