Quando precisamos voar

“Pássaro livre, quando sente que o galho já não é mais seu, ele voa” (Legão)

Chegamos a certa altura de nossas vidas e parece que aquilo que estamos vivendo já não faz mais sentido. É como se tivesse perdido o significado. Olhamos para trás e sorrimos nostálgicos e saudosos. “Como era bom aquele tempo, quando tudo possuía um propósito”. Só que a vida é assim mesmo. Ela continua. Ela prossegue. E nós prosseguimos com ela. De maneira que nos transformamos, intimamente, profundamente, internamente. Chegamos a certa altura de nossas vidas, olhamo-nos no espelho e, comparando-nos com quem um dia fomos, chegamos à conclusão de que já não somos mais os mesmos. E se não somos mais os mesmos de antes, pode ser que também não caibamos mais nas situações de outrora. É quando os galhos já não nos pertencem. E só nos resta voar para novas árvores.

A questão é que não é tão fácil quanto possa parecer. Principalmente quando nos sentimos tão arraigados àquilo sobre o qual insistimos. É como se, ao assumirmos para nós mesmos que já não condiz com quem somos, estaremos definitivamente rompendo com o passado que construímos. E se rompermos com o passado, precisaremos começar uma nova história. E seres humanos, convenhamos, não são tão adeptos às novidades da vida.

Quem é livre bate as asas e voa. Voa sorridente. Voa tranquilo. Voa disposto ao que quer que seja que tenha à sua frente, porque sabe que, embora se despedindo de tudo aquilo que até aquele momento teve alguma importância, será recebido por tantas outras experiências que se tornarão tão significativas quanto as coisas do passado. Voa rumo à novas descobertas. Voa rumo a novos sentimentos. Voa rumo a um novo significado para a vida. Voa para o universo de possibilidades existente em outras árvores por aí.

Agora, quem se aprisiona, quem sente que o galho não é mais confortável como um dia fora, porém, mesmo assim, insisti em fincar suas garras nele, pode acabar destruindo as boas lembranças que serviriam aqueceriam os futuros dias frios. É o que acontece quando insistimos em algo que já acabou. Pode ter sido a coisa mais maravilhosa que vivemos. Podemos ter feito, em algum momento, com que nos sentíssemos como os mais felizes do mundo vivendo aquela experiência. Mas condenaremos à ruína os memoráveis instantes por insistirmos naquilo que não combina mais com a pessoa que nos tornamos. Consigo ser claro? Podemos apagar uma história tão linda por não sabermos como encerrá-la.

Voe quando chegar a hora. Bata as asas. Seja valente. Não se intimide. A vida é isso mesmo. Nada é definitivo. Algumas coisas poderão durar para sempre. Mas outras não. E as que precisarem chegar ao fim não precisam ter um encerramento dramático, traumático. Saiba encerrar os ciclos com a mesma grandeza com a qual eles foram iniciados. Honre o que o fez feliz em alguma estação da vida. E permita-se às novas estações.

(Texto de @Amilton.Jnior)