A arte de (me) perder

Elizabeth Bishop me ensinou que perder não é nenhum mistério, que eu deveria perder agora para, depois, perder com mais critério. que, apesar do que pareça, isso não é muito sério.

fácil falar. encarar a perda como algo leve é outra história.

sinto que perdi.

tudo, nada. ao mesmo tempo.

mas, como perder o que não se teve ou que não existiu? como sentir uma saudade tão imensa ou correr desesperadamente de algo que apenas ousei sonhar?

sonho é coisa perigosa.

dormindo ou acordada, me mostra o melhor e o pior de mim. o que decido ignorar mergulha no meu inconsciente e me visita sempre.

não adianta fugir - teu maior desejo está aqui.

aquele pesadelo também, te vi fingir.

sonhei com você.

um pé no futuro, os mesmos fantasmas do passado.

suas asas cortadas e uma redoma invisível projetada para te proteger, mas que só consegue te prender. um sufoco sem fim.

não precisa ser assim. o mundo inteiro não precisa ser um sonho ruim.

é difícil, eu sei, mas você ainda consegue lembrar de mim?

tenta. posso te surpreender.

talvez o mistério não seja mesmo perder, mas o caminho do perceber que

só você

pode salvar você.

Ana Fiuza
Enviado por Ana Fiuza em 20/09/2022
Reeditado em 20/09/2022
Código do texto: T7610003
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