E agora?

Somos mesmo privilegiados como apontam alguns estudiosos e influencers por aí!? Porque nós, os não-cor, não visualizamos essa posição privilegiada que nos acusam de ter!? Será que é porque fomos alienados ou é porque simplesmente, diante de tantos desafios que a vida impõe, diante de tantas responsabilidades e deveres, não vemos onde nos encaixamos no rol dos privilegiados!?

É certo que há um espaço vip em nossa sociedade, resultante das desigualdades sociais imprimidas pelo apetite voraz do capital. Mas, quase taxativamente, dizer que apenas os não-cor se aproveitam disso, soa como piada, e daquelas que a gente não sabe se ri ou se chora.

Assim como é certo que todas as pessoas diferentes dos não-cor, principalmente os de “melanina acentuada”, são os que mais encontram desafios para se posicionarem na sociedade. É um fato inegável, mas condicioná-lo única e exclusivamente na conta dos não-cor, e não ao Grupinho Vip, que bastando dar uma leve pesquisada, não ficaríamos surpresos em descobrir ser um Grupinho multiétnico e colorido, é tão simplório, quase infantil.

De acordo com qualquer pesquisa rápida na internet, é possível perceber que listam pelo menos 25 privilégios que teríamos por sermos não-cor. Eis o exemplo de um deles:

a) Segundo a pesquisa, não precisamos pensar no que significa para nós e nossa família a estatística de que 77% das vítimas de assassinato no Brasil são negros. Bom, no grau de violência que impera no Brasil, dizer que não nos preocupamos com nossa segurança, que não nos preocupamos de sair na rua e sermos abordados por maus elementos e nos tornarmos vítimas de algum tipo de violência e acabarmos mortos, é risível. Alguém conhece algum caso onde o criminoso teve piedade da vítima só porque ela era não-cor!? Nesse mundo louco, é bem possível que encontre um caso aqui ou ali, mas, é regra!? É o que te perguntam primeiro antes de assaltar, estuprar ou matar?

Dizem ainda que não precisamos nos preocupar de não conseguir emprego por conta do nosso tipo de cabelo. Não precisamos nos preocupar com nossos filhos sofrendo bullying. Em suma, passam a impressão de que somos imunes a maldade e perversidade. É como se a vida fosse parcial para o nosso lado. Não é exatamente assim que as coisas funcionam no dia-a-dia.

Portanto, é preciso compreender que independentemente da cor ou raça, somos ora vilões, ora vítimas, ora privilegiados, ora marginalizados. E que o papo de que os não-cor dominam e controlam o mundo, não cola mais. As maiores e mais terríveis mazelas que atingiram nossa sociedade podem até ter sido introduzida por eles, mas continuaram a ser perpetradas e sustentadas por diversas tonalidades de melanina.