Loucura

Todos os sinais estão lá. A saudade cedenta, o ciúme inominável, o desejo intransponível... Ah, e quanto desejo! É tanto que posso jurar que cada poro do corpo grita seu nome quando a porta se abre. Cada centímetro corporal gostaria de ser tocado por suas mãos e boca... A insanidade é tamanha que faz os relógios ficarem invisíveis. Os de frutas não, os biológicos. Mas não pode ser! Mistura química que me faz negociar com a realidade... O medo da rejeição doi tanto quanto os números que nos separam. Ai menino, como pode invadir meus sonhos? Tomar de assalto meus pensamentos, meus dias e meus suspiros?! Volto a ser menina, desenhando corações imaginários. Depois daquele que me fez sangrar até a morte, jurei nunca mais me apaixonar... Das profundezas abissais brota um sorriso tímido que me faz sorrir, um motivo para sonhar acordada. A contra gosto afogo as ilusões em fumaça, empurrando cada desejo libidinoso para o mais profundo. Vejo entrar no quarto uma velha, cabelos longos e brancos, vestida em roupas pesadas e segurando uma gaiola nas mãos. Já a vi antes, minha juíza própria. Ela estende o braço e aponta com o dedo magro para a gaiola, com a fisionomia séria indica o que devo fazer. Olho para o lado e em minha cama uma jovem seminua me observa com olhos implorantes, desejosos, quase gulosos. Toca meu rosto num carinho que me faz perder a coragem por um segundo, até receber fortes pancadas no estômago e rosto. Como uma velha pode bater tão forte? Entrego-lhe o que quer, ela tranca bem a gaiola e sai, me deixando em prantos e sem esperança. Na cama, a jovem chora, uiva de ódio e me encara com desprezo e frustração.

Gota de noite
Enviado por Gota de noite em 19/10/2022
Reeditado em 21/10/2022
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