As Sagradas Escrituras e as suas diversas leituras - Part I

Talvez o título do texto deve-se ser "Não leia a Bíblia como se fosse conduzido ao pasto". Talvez se surpreenda o leitor e a leitora, pois o pasto é uma linda metáfora da Bíblia para o descanso do fiel na segurança e paz de Deus, ou como em outras comparações que se usa "campos" ou "pastagens". Mas o pasto de que me sirvo para fazer essa analogia é o pasto do campo atual, bem mais fechado, cercado de arame farpado. A natureza faz sua parte como sempre, mas em fazendas que buscam alta produtividade a qualidade do pasto é controlada, sendo os proprietários ou administradores que geralmente decidem como querem nutrir seus animais. Em outras palavras, quem decide o que vai servir de alimento aos animaizinhos é o fazendeiro, aos bichinhos só resta seguir o rumo indicado pelas cercas e porteiras, tocados de cavalo e por vezes com alguma vara. Esse pasto de hoje bem pode ser comparado a leitura fechada e dogmática das Sagradas Escrituras, que tende a guiar os leitores à ler determinada passagem dos livros e a tirar determinada conclusão. Muitas vezes ao fiel já é dada a conclusão antes da leitura, e a ele só resta rever e confirmar o que foi afirmado anteriormente. Não ataco as eruditas e reflexivas homilias, na verdade, me inspiro nelas. Nem as leituras Litúrgicas ou muitos roteiros catequéticos. Eles são instrutivos e necessários dentro da formação da comunidade e na vivência cultural religiosa. Mas devemos reconhecer que dentro de todo espectro cristão, atualmente, e, também, no passado, é fácil achar exemplos de interpretações forçadas e de defesas de coisas de todo tipo com base em trechos bíblicos, dando direcionamento abusivo das leituras bíblicas, isso quando houve a possibilidade de leitura, pois a opção de muitos era apenas escutar. É perigoso aqui eu expandir a analogia, pois aí tenderia à naufragar toda a história religiosa. Poderia ser muito mais crítico e ácido, mais não faria isso, porque eu próprio ainda sou um ser religioso. Mas não custa fazermos um pequeno exercício e dissipar as sombras do fundamentalismo. Se algum dia vier um eu futuro e quiser ser mais crítico, pelo menos não vai achar o autor deste texto um alienado por completo. Reatando o assunto, depois da longa digressão, não nos seria difícil constatar a leitura fácil, apressada e abusivamente guiada das Sagradas Escrituras. Hoje quem quer vender uma religião materialista (no sentido de mundo material em oposição aos princípios espirituais) consegue muito bem convencer os fieis de que eles precisam enriquecer, e, de que ter mais bens é sinal de ser abundantemente abençoado. Para isso, o tema da superação, das pastagens dos salmos, do bater na porta e pedir (orar) e da confiança são algumas das muitas teias de artimanhas usadas para capturar a atenção e a mente dos ouvintes. Pela leitura e repetição dos trechos indicados também os fieis sempre podem voltar, ler, e reforçar a mensagem repassada anteriormente. Seguindo o exemplo, outros se desdobram na realidade, e são tantos que abrangem os mais variados tipos "verdades" engessadas, preconceitos e charlatanismos. Uma costumeira e sagaz leitura fechada é aquela que gosta de abusar dos textos proféticos, com o objetivo de causar espanto, medo e admiração. Igrejas mais antigas costumam ter mais cautela (não de todo, pode-se rebater) com os equívocos de conclusões apressadas acerca dos textos proféticos. Mas a linguagem profética é enigmática, e por isso, adaptável em qualquer tempo e espaço (ao menos dentro do contexto humano dos últimos milênios). Juntando os pontos, pode-se guiar o discurso facilmente para eleger um novo anticristo, ou para anunciar, mais uma vez, o fim dos tempos.

Diego Maguelniski
Enviado por Diego Maguelniski em 27/10/2022
Código do texto: T7636618
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