赤いだ (é vermelho)

Já é o segundo dia em que o sol se põe avermelhando o céu. A imagem é linda e ao mesmo tempo assustadora. Parece o indicativo de um próximo dia quente, ao passo que ao mesmo tempo, lança sobre a mente e o coração inspirações disruptivas. O vermelho do céu lança o observador em uma espécie de excitação - um tesão mesmo porque ver o balançar e o erotismo desse tempo deslumbra e fascina o mais puro dos castos e beatos- enquanto pensa no conjunto de coisas que a cor evoca. Simultaneamente, se vê isolado, coberto, transpassado pelo vazio e pelo dor de não conseguir ao menos falar. A vermelhidão é tanto opressiva tanto poética. Ela se impõe e emudece para fazer quem a vê ansiar por tudo que nela há: lembremos que o vermelho invoca a confusão. Quanto ao observador, em verdade, é tomado de um medo evocado pelo vermelho. Parafraseando a poesia de certo título, o vermelho é a cor mais devassa. O observador se vê em conflito com a devassidão advinda dela e a sua própria. Uma soma de torpor e vertigem sempre presente em Neves. Sua psiquê pessoal confusa parece dividida entre o querer e o não querer. Como se estivesse entre a fronteira do desejo e o poente do poder desejar. É um penhasco. Lança-se nu, mas nada traz consigo. Vai ao encontro para voltar sozinho. E essa espécie de telas sobrepostas parecem portais tais como aquele clichê das animações: protagonistas passando os portais quadrangulares giratórios enquanto correm. É muito estranho imaginar e insistir na persistência de atrelar a corrida do poente a corrida da vida e seus momentos de entrância. Mas, a tal coloração parece galopar no céu. Vai-se para o oriente, encontrar-se-há com outras culturas do mundo - desse grande terrário no qual estamos inseridos. Mas o observador, tão minúsculo, tão micro, tão provinciano parece delirar. Na verdade, ele surta. Ele surta por não poder ser o que quer ser. Ele surta por não viver o que acha de direito seu viver. Ele surta pelas profundas negações a marcar seu ser. Ele surta porque vive e sente com carne e ossos contra uma retórica moralista a lhe condenar sem saber. Ele surta porque percebeu, enfim, o tal vermelho poente se confunde com o vermelho corpóreo infringido e cujo fluxo nem pensa em estancar. Talvez não seja possível estancar. Talvez tal fluxo seja o fim caminhando para perto. O negrume da noite onde ele fala e o eco é o que volta. Um fluxo de sangue como quem quer morrer.

M無心

15/11/22

Mateus Schneider Nascimento
Enviado por Mateus Schneider Nascimento em 15/11/2022
Código do texto: T7650705
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