Sente-se comigo

Querido alguém,

Às vezes precisamos olhar além do óbvio para ver o que realmente importa.

Eu quero que entenda que nem sempre desistir de algo significa derrota. Sei que somos ensinados que ganhar é a única coisa que importa, mas não é assim na vida real. Porque nem toda partida é perda, assim como nem toda declaração significa amor.

Então, sente-se aqui comigo. Não se preocupe se as persianas da janela bateram contra o vidro, devido os ventos lá fora. A chuva ainda está em pequenas gotas e eu segurarei a sua mão se os trovões te assustarem com o barulho. Eu fiz um pouco de chá e a xícara vai aquecer suas mãos frias. Mas eu espero que eu aqueça seu peito comprimido.

Não que eu tenha a pretensão de achar que posso te curar, pois esse processo é só seu. Mas me deixe tentar, ao menos, levar embora um pouquinho aquilo que te encurva as costas.

Eu quero estar aqui por você, com você, pelo tempo que quiser.

Se quiser, faço até um café com pouco açúcar, como você gosta. Mas de amargo basta os dias difíceis, não acha? Eu sei, eu sei. A vida tem sido dura. Há muita coisa acontecendo com você. Por isso, não há motivos para você ser tão duro consigo mesmo. Por favor, se permita relaxar. Pegue meu moletom e sente-se comigo no sofá. Desabafe comigo. Me deixe levar contigo esses fardos. A gente pode assistir um filme ou só ficar em silêncio, lado a lado, ouvindo a chuva cair lá fora sobre o asfalto, os telhados das casas, as pessoas desavisadas.

Só por hoje, não se preocupe com o tic tac relógio. Deixe que o tempo passe por nós, catando os nossos pedacinhos, encaixando-os, desenhando versões de nós, emaranhados por memórias de uma vida além dessa. Fica um pouco mais, aqui. O tempo que tenho para te dar parece pouco se eu pensar no tempo que quero viver contigo.

Vem, eu fiz uma torta de abacaxi, que talvez você goste. Sabia que, no tempo certo eles ficam tão doces, mas que se retirados antes da hora, eles são azedos como limões? Meu pai me deu essa lição há muito tempo: a vida pode ser como o abacaxi, em que existem os dias bons, e existem apenas os dias. É nosso dever sobreviver a esses dias que não são tão bons, para desfrutar dos dias certos, doces. E, às vezes, a forma como lutamos é desacelerar e apenas tomar um cafézinho no sofá da sala de estar numa segunda-feira, às 4:53 da tarde.

Você está indo bem, querido alguém.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 12/12/2022
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