Breves considerações sobre a filosofia de Nietzsche

O conceito de amor fati é equivalente ao elemento harmônico na experiência do belo em Schopenhauer, que se dar em momentos específicos de apreensão do belo por meio da submissão do princípio da razão pelo da vontade, assim como a produção das belas artes, sobretudo a música. Porém, tal conceito se dar por meio da intuição a posteriori (ou seja, não realmente como conhecimento, mas ainda estando no âmbito da sensibilidade ou sensação), a intuição do corpo e de sua individualidade conjuntamente com sua vontade e com ela a sua representação no mundo. O belo, assim, invade nossa consciência (espírito) por meio da apreensão dele, como algo dado, percebido. E essa percepção se dar no âmbito do ideal, não só o subjetivo (ou psicológico, como uma projeção narcísica de nossos desejos no objeto), mas o metafísico, tal como vislumbramos no conceito de vontade incontrolável e caótica, dado que é um princípio. Convém observar que o elemento do ideal na/pela experiência do belo em Schopenhauer é distinto do idealismo absoluto em Hegel, haja vista, que teceu duras críticas a este; é como se o desejo humano se calasse ante a vontade, tal como observamos em suas dicas para sermos mais "felizes" em sua eudemonologia, onde nos diz, basicamente, que a vida oscila entre o sofrimento e o tédio e de nenhuma delas devemos fugir, mas que o tédio se daria quando esperamos de mais da vida ou buscamos demasiadamente os prazeres ou a fuga da dor, assim, devemos aceitar a vida tal como é, criarmos menos expectativas frente a ela e aceitarmos que a alegria se dar em instantes, ou seja, se daria quando encontramos o repouso, a tranquilidade, algo mais próximo ao conceito de ataraxia do estoicismo. Assim sendo, a experiência com o sublime se daria na dimensão da metafísica, já que a realidade é por essência negativa.

Em Nietzsche a assunção de toda e qualquer metafísica é negada, assim como a adoção em parte da epistemologia kantiana (como há em Schopenhauer), já que o seu grande insight é de que matamos Deus e sua investigação se resume ao que decorre daí, ou melhor, da possibilidade da não existência de Deus e de se viver com isso. Assim, a noção de belo em Platão, Kant ou até mesmo em Schopenhauer é negada. O belo em Nietzsche consiste em afirmar a vida tal como ela é. É pautada na existência. É um ato de criação e de criar-se, aqui o ser humano já não faz mais obras de arte, faz a si mesmo como uma. A transvaloração em Nietzsche se dar pela dimensão da experiência estética, mas é vitalista, portanto, pauta-se puramente no devir. Contudo, como _ desde em Schopenhauer _ há uma adoção de um realismo, no mínimo, moderado e sendo ele negativo ou assimétrico/desarmônico, convém perguntar, por meio de qual dimensão se daria tal experiência? Como é possível a transição entre uma realidade de sofrimento, angústia e dor, para uma de (mesmo que em curto intervalo de tempo) harmonia e beleza? Poderias responder que o belo já não se relaciona com o simétrico, mas com o ato de criação, ou seja, pela dimensão da práxis e da reafirmação da vida tal como ela é, por fim, pelo amor fati. Porém, de onde tiraria o ser humano tal força de superar a si mesmo, de ir sempre além, sempre em picos mais alto da montanha? E a resposta é, pela vontade de poder. Contudo, mais uma vez, pergunto, de onde tiraria tamanha força o ser humano? É possível um ser angustiado, em sofrimento, agonizando ao tomar consciência do niilismo, ter por vezes um ato heroico e transcendente (mesmo que a si mesmo)? Ou é um absurdo? Um ato pautado em um irrealismo? Digo, ao assumir a realidade como negativa (em Nietzsche o processo de crítica é em relação a tudo), absolutamente negativa, é possível a partir disso gerar o positivo? Mesmo que seja o sujeito? Aqui não é, pois o sujeito é totalmente imanetizado, assim sendo, a assunção do negativo e de um sujeito corporal (fisiológico, orgânico) em correspondência com a realidade negativa, faz com que a epistemologia de Nietzsche _ vide as metáforas úteis _, mesmo que didaticamente (para um "bom" viver), seja antirrealista, também pela impossibilidade de nosso aparato psíquico e pela nossa ânsia do criar-se (aqui já assumindo explicitamente a relação entre a filosofia da identidade e a epistemologia).

Por fim, há contradições evidentes entre as passagens dos conceitos, que como evidenciado, se dar pela contradição em sua epistemologia e a concepção de indivíduo, não atoa, recorre exaustivamente a narrativa alegórica e simbólica, haja vista, ser um apaixonado pela tragédia e mitologia grega. Assim sendo, Nietzsche não simplesmente assume a impossibilidade de todo e qualquer sistema metafísico, mas de todo e qualquer sistema, com isso derroca o raciocínio apodítico. Rematando, se Nietzsche é um filósofo de sistema, ele é frágil. Se ele é predominantemente ou exclusivamente um criticista, ele não deve ser tão creditado. Se ele te toca de maneira profunda e intensa, há uma correspondência entre o teu ser e o dele, senão, convém perguntar o porquê. Se não te toca muito ou nada, também convém perguntar o porquê. Eis um exemplo da utilização da virtude da prudência. Parafraseando R. Scruton, se alguém diz que está tudo errado, não acredite nele.

Em Schopenhauer, a partir das sensações e das intuições que temos em relação ao corpo e ao que o circunda, construímos o conhecimento por meio da representação e a intuição se dar por meio da causalidade, subjazendo as noções de espaço e tempo em que está o corpo submetido. Para ele tal processo se daria por meio do cérebro, assim como ele diferencia o gênio e as pessoas normais também por meio do cérebro, ou seja, tanto em Schopenhauer, como em Niezstche, há uma certa valorização do corpo, neste mais do que naquele. A partir disso temos a crítica de Schopenhauer a Kant no que se refere as intuições, pois em Kant (segundo Schopenhauer) ele negligenciou o papel das intuições. Contudo, em Hume o que fundamenta a lei de causa e efeito é ilógico, digo, não há bases lógicas e formais que comportem tal adoção ou a inferência de que de A segue-se sempre B, apenas de que de A seguiu B por meio do hábito e da contiguidade e sucessão. Como no empirismo de Hume há apenas o fenômeno, epistemologicamente é semelhante em Schopenhauer, com a diferença de que há a coisa em si, só não podemos alcançá-la. Como em Niezstche não podemos afirmar ou não se há coisa em si (já que é um perspectivista) e a vida tal como esclarecido se apresenta de forma multifacetada e desarmoniosa, mas assim mesmo conseguimos produzir o belo, então ou a vida não é toda desarmoniosa ou há o ideal em um plano metafísico. E o que me parece evidente em sua filosofia é que muitos conceitos são dessa natureza, tal como o ubermensch. Tendo-se em conta, que não adotei o conceito de vontade de potência no seu sentido cosmogônico. Dessarte, Niezstche entra em aporia.

Oaj Oluap
Enviado por Oaj Oluap em 03/01/2023
Reeditado em 03/02/2023
Código do texto: T7686183
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