Sentindo

Sentir é tão confuso pra mim.

Às vezes, aparentemente, não aconteceu nada, nada mesmo, nenhuma fagulha do grande fogaréu da inconstância chegou a tocar minha pele, nenhuma gota da chuva de incertezas passou pelo meu corpo, ainda assim, sentir, é tão confuso e indissociável que me vejo, me entendo, me percebo... sentindo, sentindo demais.

Eu gostaria de poder explicar com mais facilidade, de desenhar tão bem quanto os traços quaisquer que faço sobre o papel, de reescrever as paginas do meu sentimento como a um conto poético e doloroso, mas não consigo, sinto tanto... que nada sinto.

É quase como perder o controle ao som de uma melodia que só está tocando em minha cabeça, ninguém mais parece ouvir, ninguém mais parece perceber, mas ela está lá, tocando alto o suficiente pra que eu perca o sentido de tudo que acontece ao meu redor, desde que eu esteja ali, parado, dançando e cantando por dentro, tudo se cala ao meu redor. E não é uma coisa tão bela quanto parece, porque a música alta as vezes não é tão confortável assim.

Em algumas ocasiões a música é quase um tango, calmo, suave, me faz querer dançar por todo o caminho, pegar as mãos que estiverem a minha disposição para me fazer dançar com elas, me fazer dançar com as pessoas a quem elas pertencem, e o ritmo vai lentamente mudando, enquanto meu corpo baila sobre uma passarela suspensa sobre um grande lago.

Já outras vezes a música é uma mistura de pop e metal que estremece todas as paredes do meu ser, acho que num agudo tão poderoso ou em um grave tão estridente que chega a doer meus ouvidos, chega a ferir meus pés quando danço e chega a machucar minha mente que ouve calada a toda essa discografia confusa, ainda assim, não parei de me mexer dentro da minha cabeça, não findei nenhum movimento, e antes que eu perceba, não há mais nenhuma mão me segurando, não há mais ninguém ali dançando comigo, apenas eu, a passarela já afundou sobre as águas e eu me afogo sem me afogar, sem nunca parar nenhum movimento.

E talvez, nesse meio momento, eu percebo que tudo não passa de puro e completo sentimento, as vezes um sentir confortável, outras vezes turbulento, mas tudo não passa de sentimento, e apenas um segundo em minha mente durou mais tempo do que eu poderia definir em minutos, em horas, em dias. Então eu retorno a nossa realidade, um pouco menos inteiro ou um pouco mais completo, é difícil definir no momento.

E ainda assim, às vezes, em momentos que antecedem ou precedem alguma situação completamente fora dos meus estados de percepção, algo que poderia devastar qualquer coração ou fazer agir a pessoa menos preparada, eu me perco nesse sentir, que se torna vazio e inexistente, quase como um silêncio infinito do universo. Nenhum barulho, nenhuma ação, nenhum sentir, nenhuma percepção, apenas o silêncio e a falta de qualquer movimento.

É quando não sinto nada que mais sinto tudo, e por sentir tudo eu acabo não sabendo realmente e precisamente o que sentir, ou ainda mais, o que fazer. Qual expressão mostrar? O que eu deveria sentir nesse momento? Deveria rir? Chorar? Por que me julgam por não saber demonstrar? O que eu deveria demonstrar? Será que estou sendo falso por colocar um sorriso que nem sei se é realmente ele quem devo por? Será que me chamarão novamente de insensível por não chorar as lágrimas que não vieram, mesmo vendo todos aos prantos ao meu redor? O que é o sentir nessas horas que, de tanto sentir, nada sinto, nada expresso, não compreendo o que poderia ser.

E de novo, sentir é tão confuso pra mim...

Talvez em algum momento não seja mais tão confuso, dias assim, dias não tão assim. Em algum momento, talvez, alguém se faça entendível e aprenda, mesmo que pouco, para me ensinar como sentir devidamente diante dos sentimentos, porque pra mim, nesse instante breve que utilizo do meu melhor pra explicar, acho que não consegui apropriadamente, explicar como meu sentir.

Maicon Lopes
Enviado por Maicon Lopes em 11/01/2023
Reeditado em 11/01/2023
Código do texto: T7692466
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