A FRAGILIDADE DA FÉ

Decidi escrever esse texto porque eu senti necessidade de pôr no papel questões que estão me incomodando. Uma dessas questões é a fragilidade da fé.

Não pense o leitor que eu quero menosprezar a fé de alguém, ou até mesmo demovê-lo dela. Quero apenas me expressar da maneira que me é característica, escrevendo.

Para iniciar este meu pensamento, devo dizer que como cresci em um meio cristão, sempre fui levado a crer no absolutismo do monoteísmo. Eu deveria aceitar que Deus é onisciente, onipresente e onipotente. E eu deveria aceitar isso sem jamais questionar, que apenas o ato de questionar era uma afronta à soberania de Deus.

Os líderes religiosos me fizeram acreditar que a bíblia era a verdade absoluta e inquestionável, e que todos que tentassem contradizê-la estavam tentando contradizer ao próprio Deus. Confesso que durante muito tempo essa foi a minha realidade de mundo. Tudo de bom ou ruim que me acontecia, eu creditava às principais figuras do cristianismo: Deus e o Diabo. Quando meus planos eram frustrados, eu acreditava ser a vontade de Deus, porque ele teria algo melhor para mim. Ou quando eu queria questionar e aprender sobre o mundo, sair da “caverna da ignorância”, os meus líderes me diziam que era o Diabo tentando me cegar para as coisas de Deus.

Devo confessar que já tive crises de ansiedade por causa da igreja. Eu julgava ser um miserável quando queria ser livre dessas amarras, eu julgava estar sofrendo as consequências, sendo punido por Deus, pois eu queria buscar conhecimento; não conhecimento religioso, mas respostas para as infinitas perguntas que se assomavam dentro de mim.

Por anos foi assim. Eu era obrigado a obedecer calado, ser um bom cristão e nunca duvidar do livro sagrado.

Quando estamos presos dentro desse ciclo, a gente não vê o quanto a igreja, muitas delas conduzidas por maus líderes, pode prejudicar uma pessoa. Ao longo da minha vida como cristão, eu vi as pessoas com mais recursos financeiros sendo elevados mais rapidamente aos cargos de mais prestígio do ministério. Vi também muito nepotismo, parentes e amigos dos soberanos da igreja recebendo tratamento diferenciado do resto. Por mais que eu tentasse, nunca conseguia me encaixar verdadeiramente nesse sistema. Muitas vezes eu me sentia asfixiado, mas eu atribuía isso ao Diabo, que estava tentando me tirar da presença de Deus.

Como eu disse inicialmente, não quero atacar e nem ofender a fé de ninguém, porque nós somos feitos de crenças. Todos acreditam em algo; alguns em Deus, outros nas comprovações científicas. Mas todos, de certa forma, têm a sua fé. Eu só quero pôr para fora esses pensamentos que afloram em mim.

Para concluir minha opinião acerca da fragilidade da fé, devo salientar que toda vez que eu tentava ir atrás de conhecimento, eu era repreendido e, às vezes, eu até me sentia culpado por querer pensar fora da caixinha, sentia que estava entristecendo a Deus.

Porém, conforme fui me aprofundando nas perguntas que me rodeavam e consequentemente descobrindo a mim mesmo, fui perdendo o medo de ir cada vez mais longe. E a cada descoberta, eu via o quanto a bíblia tinha suas incoerências. Uma delas é a interpretação do Inferno. Eu achava estranho o Velho Testamento não mencionar explicitamente o Inferno, ao contrário do Novo Testamento que o mencionava abertamente. O que descobri me fez ter plena consciência de que a igreja, ao longo da história, veio manipulando seus súditos. O Inferno no Novo Testamento nasceu a partir da fusão dos mitos judaicos com os greco-romanos, essa fusão se deu por conta da influência de Roma sobre os judeus. Ou seja, é provável que o Inferno exista apenas no imaginário dos fiéis.

Foram a essas conclusões que eu cheguei. Quanto mais eu pesquisava, mais eu via as interpretações errôneas e as incoerências da igreja e seus textos sagrados que surgiram ao longo dos séculos. Mas o principal motivo que me fez largar a religião cristã, foi porque ela tentava me sufocar quando eu queria respirar, ela me aprisionava quando eu queria voar. Eu entrei em um processo de autoconhecimento e vi que a igreja estava criando uma barreira diante desse meu processo, então eu abandonei a religião e não senti nenhum arrependimento.

Antes de finalizar, devo dizer que não me tornei ateu. Eu ainda acredito em Deus, mas não da forma que a religião nos fez engolir. Não acredito nesse Deus intervencionista que está a todo momento mudando o destino das pessoas. Acredito na responsabilidade subjetiva e que cada um deve arcar com as consequências de suas escolhas. As pessoas querem um “pai” todo-poderoso para lhes guiar e lhes absolver de seus erros, porque o indivíduo que busca o conforto da religião não consegue reconhecer sua imaturidade emocional e sua incapacidade de assumir as rédeas de si próprio.

Não digo que não haja nada do Outro Lado, porque ninguém que cruzou essa fronteira voltou para nos contar (ao menos comprovado cientificamente).

Mas a cada dia que se passa acredito mais que, talvez, após a morte, o que haja mesmo seja apenas o silêncio.

Felipe Pereira dos Santos
Enviado por Felipe Pereira dos Santos em 13/01/2023
Código do texto: T7694235
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