FODA-SE

Nos últimos dias, perdi inúmeras batalhas, a maioria esmagadora, contra mim mesmo. Se a dor tomasse uma forma tão expressiva quanto essas palavras, haveriam bons metros de vísceras sujas de bosta espalhadas pela minha sala de estar comprovando veracidade do que informo.

Alguém que não tenha problemas de pele deveria dar um tiro em si mesmo, bem no meio da testa, dentro do consultório de uma dermatologista.

Não é tão arbitrário, e por mais que pareça um plano sem nexo, é na natureza disruptiva e inusitada do ato que destrinchamos a grandeza de seu valor.

Ninguém entenderia nada.

Se ao menos fosse no consultório de uma psiquiatra, haveria uma linha mais clara de investigação, já a dermatologia é um caminho completamente obscuro, sem qualquer espaço para suposições sóbrias, pensar que o indivíduo que faria isso seria capaz de errar a sala da psiquiatra seria de um salto lógico sem tamanho.

E no fim das contas, a verdadeira mensagem seria internalizada no espírito coletivo sem que fosse necessária muita atividade mental, algo como: há algo muito errado com o mundo, e cresce bem debaixo dos nossos narizes.

Há poucas coisas que eu gostaria de deixar tão claras quanto essa

É sempre mais do mesmo, em um espectro tão metafórico quanto autoexplicativo.

Exceto pelo meu quarto, repleto de pratos, roupas sujas e folhas de papel espalhadas por todas as direções, que por mais que reflita o estado mental ao qual me encontro, carrega uma natureza ainda mais elementar, sendo a própria deterioração em seu estado pleno, e não o sintoma da doença, compreende? Eu sou o meu quarto em toda desordem e desistência que ele carrega.

Ando com um olhar vazio, perdi boa parte do que poderia perder e nem me sinto mais um ser humano.

Só chego em casa e vou escrever, porquê o que me resta é dar vazão a essa paixão obsessiva

Porquê a vida é uma carne dura que deixa pedacinhos de fibra presas no dente, porquê uma espinha de peixe atravessou minha gengiva depois de uma mordida forte e descuidada.

Um dia devo estar bem de verdade, ao ponto de não produzir mais nada que se aproveite.